Eu só quero amar...
Enrico, estudante da sexta série do
ensino fundamental, muito tímido, obesidade mórbida... bobagem, ele era muito mais gordo de que uma obesidade móbida. Para complicar a sua
timidez, ele era um péssimo aluno em quase todas as matérias, exceto em
português. Em português ele era muito bom. Fazia cada redação linda, de causar
inveja.
Enrico sofria muito bullying. Colegas
covardes, irresponsáveis, sem educação familiar, sem religiosidade e sem
respeito humano o criticavam pela obesidade, pela timidez e, por ser um mal aluno.
Também, em caso contrário, quando era elogiado pelos professores em seu
desempenho em português, ele era também vítima de repetidas humilhações. O pior
do bullying é que um grupo de colegas faz a sua irresponsabilidade e, são
animados a continuar porque um outro grupo ri e acha “graça”. Chamavam-no de
“burro gordo”, chorão (às vezes chorava de tristeza), às vezes chutavam as suas
nádegas, catavam o seu material escolar e o espalhavam pelo pátio da escola.
Algumas vezes, ele era impedido de frequentar
algum evento nas dependências da escola, agredido com palavras humilhantes e
vexatórias. Dias e mais dias, semanas e mais semanas, meses e mais meses sem
fim levaram Enrico a não mais querer ir às aulas. Ele saía de casa e não ia para o colégio.
A diretoria avisava aos seus pais, mas, ele se recusava a dizer porque não
estava indo, sempre negando as humilhações a que era submentido. Um dia em uma
festa cívica do colégio ele foi tão humilhado que se sentou na calçada e chorou. Como chorou... chorou de fazer dó. Nesta hora uma colega da mesma
turma veio ao seu socorro. Sentou-se ao seu lado, acariciou os seus cabelos,
secou as lágrimas dele, mas, nada disse. Ficou apenas esperando que ele parasse
de chorar. Como ele era muito tímido, não sabia como se portar diante dela. Era
a garota mais linda do colégio. Filha de pai japonês e mãe sueca. Como era linda, como era impressionantemente bela. Aos quatro anos de idade ela fora eleita, em um concurso em mídia internacional, a menina mais linda do mundo. Ela era garota propaganda. A sua beleza era disputada em capas de livros e revistas.Eles eram da mesma turma desde que entraram na Pré-Escola.
Em virtude de sua timidez e, por se achar feio, ele nunca se atreveu a se
aproximar dela. Mas, o perfume daquela beleza de garota pareceu lhe confortar,
sem nada falar.
__Eu vou para casa. Nunca mais vou
sair de casa. Se meus pais me obrigarem a sair, eu vou me atirar na frente do trem.
Thau, Ayami.
__Enrico, eu posso ir com você?
__Não, Ayami. Não pode. Você vai
contar para os meus pais e, eles vão continuar me humilhando. Vão dizer o que sempre dizem..."você tem que reagir, você tem que deixar de ser bobalhão e... idiota"
__Não, não vou. Eu vou com você para
proteger você daqueles malvados. Eu sempre ficava muito triste quando os via
humilhando você. Muitas vezes eu os denunciei na diretoria, eles eram chamados
pelo diretor, mas, nada acontecia. Eles continuavam tirando sarro de você e,
até agredindo você física e moralmente.
__Como você pretende me defender. Você
é uma criança como eu. Temos apenas dez anos de idade...
__Confie em mim. Agora vou até a sua
casa e vou pedir a sua mãe para deixar você estudar comigo em minha casa,
depois do almoço. Podemos brincar, jogar xadrez, fazer dever de casa. E todo
dia eu vou buscar você para ir à escola. Você estando comigo, eles não vão
maltratar você.
Ele se recusou, pois, tinha vergonha.
Foi embora sozinho para casa. Três garotos às gargalhadas correram atrás dele.
Ele tentou correr. Tropeçou e caiu. Quando tentou se levantar ele foi empurrado
por um dos garotos e caiu novamente. Assim que Enrico caiu pela segunda vez,
Ayami impediu que outro garoto o chutasse. Segurando um dos dedos de uma das
mãos do pequeno malfeitor, ela aplicou um golpe tão doloroso que o moleque se
ajoelhou de dor e, até fez xixi na calça. Sem nada entender os outros dois tentaram
agarrá-la e, sem novamente entenderem, foram lançados ao solo com a maior
facilidade. Sem soltar o dedo do que estava ajoelhado de dor, Ayami voltou a
rechaçar os dois que haviam tentado saltar sobre ela e, novamente, eles foram
para o chão. Os dois correram e deixaram o seu “amigo” ajoelhado no chão
gemendo de dor. Sem largar o dedo do pequeno meliante Ayami o avisou de que, daquela
hora em diante ela estaria de olho neles e que não os deixaria maltratar mais
ninguém. Após ser solto, ele saiu correndo. Sem olhar para Enrico, Ayami também
correu para casa. Enrico ficou se perguntando, como ela fizera aquilo. Foi
também para casa.
Após o almoço Ayami chegou na casa de
Enrico e, mesmo sabendo que inicialmente ele não concordara. Conforme havia
sugerido antes, ela pediu à mãe dele
para deixá-lo ir estudar com ela na casa dela, pois, ela estava com dificuldade em português
e, ele conhecia muito bem esta matéria. Poderiam fazer todos os deveres escolares. A mãe dele gostou muito, pois, ele
não gostava de estudar, nunca levava os deveres e, sempre tinha reclamações das
professoras. Enrico, todo envergonhado,
preferiria não ter que ir, mas, não teve como deixar de acompanhar a sua
colega. Todo desajeitado, todo gordão que mal conseguia caminhar, não conseguia
entender por que uma garota tão linda como aquela japonesinha (era assim que a
conheciam, embora os traços de sua mãe sueca a abrilhantassem mais) estava colado no seu pé naquele dia.
__ Ayami, eu posso lhe fazer uma
pergunta?
__Claro que pode Enrico. Mas, eu acho
que já sei o que você vai perguntar. Se é isso que você está pensando, eu não
estou ajudando você. É você que está me ajudando.
__Como assim? Não entendi...
__Não tem nada para entender. Você
não tem amigos e, eu, também não os tenho. Eu estou estudando xadrez e
necessito de alguém para jogar comigo. Eu aprendi Karaté e não tenho quem
treinar comigo...
__Mas, Ayami, eu sou gordo, feio,
desajeitado e, na nossa turma existem muitos melhores do que eu, não?
__Você não é idiota, você é educado,
você é humilde e, embora seja muito gordo, desajeitado, você não é feio não...
você tem um coração lindo e, um rosto mais lindo ainda.
__Como você fez aquilo com aqueles
meninos hoje pela manhã?
__Não importa. Eu odeio aqueles
garotos do mal. Você não vai fugir deles, nunca mais. Eu sempre vou estar do
lado de você...
A tarde foi muito proveitosa. Eles
estudaram, fizeram os deveres escolares, tentaram jogar xadrez e, até Karaté
que, até então, ele apenas ouvira falar. Era final de sexta feira. Durante todo
o sábado e o domingo eles, na casa de Ayami, fizeram as mesmas coisas. Na
escola, na segunda feira, eles chegaram e permaneceram juntos durante todo o
tempo. Alguém perguntou se o “gordo burro” necessitava de guarda costa feminina...
__Eu não sou guarda costa dele, ele é o meu namorado.
Os pestinhas riram. Os imbecis de “plantão”, também. A professora ralhou com todos. A professora foi dura com ela. Ela tentou lembrar à mestra o quanto Enrico era humilhado na aula. A professora mandou que ela não se envolvesse.
Durante a aula,Ayami viu quando alguém jogou uma maçã na cabeça de
Enrico. Novamente risos na sala de aula. Ayami se levantou foi até o mesmo
garoto que ela, na sexta feira anterior quase teve a mão quebrada por ela,
agarrou o mesmo dedo que agarrara antes e, segurando firme ordenou que pedisse
desculpas bem alto.
__Diga bem alto: “professora, eu joguei
uma maçã na cabeça de Enrico. Perdão Enrico” ... ou vou quebrar o seu dedo.
__Não, não... pare, está doendo...
__ Só depende de você... vai doer
muito mais...
__Ai, ai...
__Vamos, cara!
__Professora, eu joguei uma maçã na
cabeça do Enrico. Perdão Enrico.
A professora saiu de sua mesa e
ralhou, nervosa.
__Ei... ei... o que está acontecendo?
Vocês acham que estão na casa de vocês? Ayami, vá para o seu lugar.
__Ok, professora.
__Já terminaram de copiar a lição?
Terminem rápido, pois, temos outros assuntos a tratar.
Assim que terminou a aula a pequena
gang, nove alunos no total, todos perversos e malfeitores combinaram de agredir
Ayami. O plano dela começava a dar certo, já que, pelo menos naquele momento, eles
deixaram Enrico e focaram nela. Ela, quando sentiu o que ia acontecer, já fora
da escola e, a caminho de casa, ela pediu a Enrico que fosse embora e a
deixasse. Em princípio ele queria ficar para ajudá-la, mas ela o convenceu a ir
para casa e atraiu a molecada para uma ruela deserta próximo ao Colégio.
Eles desconheciam que ela treinava “Caratê”
desde muito criancinha. Treinava com o seu pai e seus tios (japoneses natos) para
defesa pessoal. Apenas defesa. Afinal, essa sempre foi a filosofia “Caratê”.
Alguns minutos depois ela saiu da rua deserta deixando os nove garotos muito
assustados e com algumas lesões leves. Eles inicialmente pensaram em pedir aos
seus pais para irem à polícia. Desistiram da ideia. Seria vergonhoso nove
meninos apanharem, juntos, de uma menina.
Nos dias seguintes, em vários dias
seguintes, Enrico não foi mais perturbado. Ayami sabia que não conseguiria
defendê-lo por tempos e tempos. Como os pais dele nunca o orientaram como
deveriam ter feito, deixavam claro que ele teria que se defender sozinho, Ayami
pôs em prática o que já pensava a muito. Levou Enrico para a sua casa, onde permaneceria
durante todos os dias. Enrico passou a ir para dele casa apenas para dormir.
Durante o dia, de todos os dias, ele passou a viver a rotina daquela casa.
Alimentação saudável, exercícios físicos, estudo de caratê, xadrez, além de
aprender a estudar todas outras disciplinas escolares.
Amigas questionavam muito Ayami...
__Ayami, você é uma garota de classe,
linda, educada. O que levou você a se afastar de nós, suas amigas, para ficar o
tempo todo com aquele gordo feio. Ele é bobão, feião e gordão. O que você vê
nele? Tudo isso é por ter pena por ele ser caçoado pelos colegas?
__Meus pais gostam dele e me apoiam.
Depois que passou a ficar aqui em casa durante todos os dias, ele melhorou
muito. Já está mais sociável, melhorou o rendimento escolar...
__Mas, ele continua gordão,
desajeitado e feio...
__Não, não! O Enrico é muito lindo.
Ele apenas está preso naquele corpo gordão desajeitado. Esperem e verão que eu
vou tirá-lo daquele corpo que não é dele. Ele tem apenas dez anos e ajuda o meu
pai. Já trabalha com o meu pai e vai ganhar dinheiro com isso.
__Trabalha em que? Aquele gorducho não
sabe nada. Só sabe português...KKKKKKKK
__Pois está trabalhando com isso, com
a língua Portuguesa. Vocês sabem, o meu pai, japonês, é escritor e não sabe bem
Portugues e tem que pagar caro para professores corrigirem os seus textos. Com Enrico aqui em
casa, a cada página que o meu pai escreve, sem niguém pedir, Enrico já corrige.
Inicialmente o meu pai não tinha confiança e enviava, sem nada falar, para os
seus professores. Eles devolviam da mesma forma, sem necessidade de correção e,
até elogiando alguma expressão literária. Então o meu pai dispensou todos eles
e contratou Enrico. Enrico tem umas ideias maravilhosas, modifica alguma
expressão e, após ler aquelas modificações, o meu pai adora. Além de saber
português para muito além da idade dele, Enrico é poeta. Nossos professores já
diziam isso, vocês não esqueceram, ou, se esqueceram? Além disso, amigas. Não sou eu que o ajuda, ele sim, me ajuda...
__Como?...
__ Ele, minhas amigas, sem me criticar, sem "gozar" da minha cara, ele está me ajudando em um péssimo hábito ... um hábito que meu Psiquiatra chama de "TOC"... O Psiquiatra sabe deste distúrbio, ganha dinheiro de meus pais... apenas ganha o dinheiro de meus pais... Enrico, sim, sem ganhar dinheiro, está me ajdando em silêncio. Ele me ajuda a corrigir a posição do tapete da porta da entrada da casa, tira os desvios dos quadros da parede... ele não deixa que eu veja o pendente solto da cortina da sala, me ajuda a corrigir algumas desorganizações de móveis... mesmo que não vá participar dos jantares comemorativos que os meus pais sempre oferecem, ele, sem deixar que eu o faça, corrige as posições dos talheres na mesa, troca louças erradamente colocadas...
__KKKKK!!!1 É mesmo um idiota, não, amiga?
__Sim, sim... um idiota que me aplaude, me abraça e se emociona quando eu conto episódios de minha criancice remota... como, por exemplo, o lindo cachorrinho de pelúcia que eu ganhara de uma amiga da família. Como eu amava aquele cachorrinho!!! O seu azul que nem sei, era lindo. ficava muito lindo com as suas orelhinhas de cor laranja... um dia, depois de muito me aconchegar, o meu lindo cachorrinho perdeu uma orelhinha... não sei como e, eu não a encontrei. Eu me senti muito mal. Arranquei a outra orelhinha para deixá-lo "simétrico"...
__E?????
__Eu me senti pior e, nem conseguia mais olhar o meu cachorrinho amigo. Eu o joguei fora. Como a minha boneca de papelão. Um dia eu dei um banho nela e tive que a enterrar no quintal como uma massa disforme. Isto, sem niguém saber, durante muitos anos, aquele episódio roubou meus primeiros minutos de sono.
__"Caralho"... ele é tão doente como você? KKKKKK!!!!!!!
__Tudo bem, amiga, pode ficar com o
seu gordão, mas, não se afaste de nós, por favor.
__Pelo contrário, minhas amigas. Eu só
fico do lado dele nas horas de estudarmos. Ele não tem mais tempo para ficar
comigo. Além de ficar preso nos textos de meu pai, meus tios o põem para
correr, nadar, jogar xadrez e aprender lutas de defesa pessoal. Venham para cá
também. Participem junto com ele.
__Não, não... quando você estiver
livre, nós viremos buscar você. Preferimos andar de bicicleta, ir à praia, ir ao
shopping... não ganhamos nada aqui, mas, nada disso que podemos fazer juntas,
não tem graça sem você.
__Tudo bem minhas amigas. Eu também
sinto saudades de vocês. Não iremos nos separar. Eu amo vocês!
__Podemos ir agora, dar uma volta,
tomar um sorvete, pisar na água da praia?
__Claro que sim. Vamos...
E elas saíram passeando felizes e, às
gargalhadas.
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O tempo passou muito rápido. Mesmo
não querendo isso, todos cresceram, entraram cada um deles para a Faculdade que
melhor lhes agradasse. No dia da festa de
formatura do Segundo Grau, ao receber o diploma, cada aluno fazia um
agradecimento a quem quisesse. Muitos deles marcantes e emocionantes. Enrico,
agora magrinho e bonitão como Ayami prometera às amigas transformá-lo, também
teve que fazer o seu depoimento.
__Obrigado aos meus pais por me
deixarem amar vocês... Obrigado professores por me tolerarem...Obrigado aos
colegas que no primeiro grau me “zoavam”, me “humilhavam”, me “agrediam
moralmente, psicologicamente e, às vezes, até fisicamente” ... graças a eles, hoje
eu sou o que sou... Obrigado, Ayami por ter me protegido de meus agressores e,
muito mais, graças à sua proteção, hoje eu sou um escritor de sucesso, um
campeão de xadrez e caratê... Graças a você eu comecei ajudando o seu pai a corrigir
os textos que ele escrevia, pois, sendo Japonês, o seu Português não era bom.
Depois de alguns anos eu comecei, com a ajuda dele, a publicar os meus próprios
escritos. Hoje, meus textos são
publicados em português e, em japonês. Amigos, eu sei que estou prolongando muito, mas,
em público, sem pedir licença a ela, eu vou fazer uma pergunta a uma menina
moça, tão linda, tão sensual que nem sei, por que ela vive apenas ajudando as
pessoas e, nunca a vi se interessar por ninguém, nunca a vi com namorado. Ela
tem todo direito de responder ou não. Ela sabe de quem eu estou falando...
Todos se entreolharam, ninguém nada
disse, ninguém nada entendeu...
Outros alunos fizeram o seu
agradecimento. Chegou a vez de Ayami...
__Eu não necessito dizer “obrigado” a
ninguém... A cada segundo de minha vida, todos que me são caros, todos sentiram
em mim, gratidão em meu coração e, em meu comportamento. Mas, eu também tenho
que me prolongar para responder ao nosso herói, Enrico. Meu colega, eu nunca
tive pena de você... eu sempre tive e sempre terei, revolta de pessoas que se
põem a humilhar outras pessoas apenas para serem aplaudidos por idiotas iguais
a eles. (Aplausos prolongados) ... ainda não terminei (mais aplausos prolongados)
... obrigada, obrigada... ainda respondendo ao meu “amigo” (a voz dela saiu embargada)
... eu não tenho o direito de achar que seria eu aquela menina moça a quem você
se referiu... mas, eu posso responder por ela... eu nunca tive um namorado, eu nunca “saí” com
nenhum namorado, porque, desde muito tempo, desde criança, desde o tempo em que
você era gordo e feio, sempre, em todos os momentos de minha vida, eu sonhei
estar com você... você jamais desconfiou Enrico... você quer ser o meu amor? Eu
amo você.
Enquanto aplausos e emoções prolongadas
mudavam o sentido daquela comemoração, Enrico subiu ao palco e se beijaram
louca e apaixonadamente...