AMOR DA
MINHA VIDA
OU
ENZO E ALANA
Dr. Afranio Bastos
Nós não tínhamos nenhum parente.
Morávamos no interior do Paraná.
Morávamos em
uma bonita casa. Meus avós maternos moravam conosco. Eram os nossos únicos
parentes.
O meu avô
era muito rico. Ele tinha uma indústria de componentes eletrônicos. Digo tinha,
pois, estava muito idoso e não conseguia mais controlar os negócios. Ele já
havia vendido tudo e aplicado todo o dinheiro em nome de meu pai.
O meu pai
acabara de se aposentar como professor universitário.
Em uma manhã
de domingo fomos para a igreja eu, mamãe e papai. Meus avós ficaram em casa. Em
um dado momento, da igreja, nós ouvimos um barulho enorme. Uma explosão e todas
as pessoas que estavam na igreja saíram correndo assustadas. Ah, meu Deus. Que
tristeza! A explosão fora na nossa casa e, ela estava sendo consumida por um
volumoso incêndio. Rapidamente chegaram os bombeiros, mas, não conseguiram
salvar meus avós. A casa foi toda consumida pelas chamas.
A minha mãe sofreu muito.
Todos nós sofremos. Mas, eram os pais dela. O laudo pericial constatou que fora
um vazamento acidental de gás. Ela quis se mudar de cidade.
Meu pai
comprou um sítio no litoral do Espírito Santo. Nada conhecíamos por lá, mas, a
minha mãe queria mesmo aquilo, ficar longe de lembranças tristes.
Eu tinha
cinco anos de idade. Era um sítio lindo com uma mansão mais linda ainda. Uma
cachoeira barulhenta caía de um penhasco coberto de gigantescas árvores e, no
solo, corria formando um fundo rio de águas claras. Pacas e capivaras corriam
para o rio, amassando o capim alto e espantando o bando de coloridas borboletas
que lá iam pousar.
Acabávamos
de chegar. Já era quase noite. Nenhum vizinho por ali. Apenas uma orquestra de
pássaros estava lá. Acho que para nos receber.
Descarregado o caminhão de
mudanças, meus pais decidiram deixar para arrumar tudo no dia seguinte. A minha
mãe fez uma gostosa sopa e fomos dormir. O meu pai ainda ficou um pouco
acordado ouvindo rádio e, tomando o seu vinho de todas as noites.
Era noite, não muito tarde
quando o meu pai, ainda acordado, ouviu um choro de criança. Parecia na porta
da casa quando ele acordou a minha mãe, eu também acabei acordando. Fomos ver
e, tinha uma criança em uma caixa de papelão na varanda de nossa casa. Logo,
sem demora, estava frio, a minha mãe pegou a caixa com a criança.
__Meu Deus. Veja Artur, uma
criança abandonada, e é uma menininha. Parece que tem poucos dias de vida.
__Olha Alice, tem um envelope
dentro da caixa.
Antes de ver o que tinha dentro
do envelope, meus pais saíram da casa, procuraram em volta e não viram ninguém.
Aquele resto de noite foi uma festa só. Ninguém mais dormiu. A cada minuto mais
nos apaixonávamos por aquela criaturinha meiga. Só quando o dia amanheceu é que
o meu pai disse que iria avisar as autoridades na cidade e, a minha mãe, já
apaixonada pela criança, não deixou.
__Não, não Artur. Ninguém sabe
da criança, vamos ficar com ela.
__Nós não podemos fazer isso,
Alice. Alguém pode dizer que nós a roubamos
__Espera, ainda não vimos o
que tem no envelope que estava dentro da caixa junto com a bebê. Vamos ver
primeiro.
Dentro do envelope havia uma carta
pedindo para que cuidassem daquela menininha linda. Era uma carta grande e,
junto com a carta, uma certidão de nascimento e um pen drive. O nome da criança
era Alana Schneider. Pai desconhecido e, a mãe, Alessandra Schneider.
Resolveram ler a carta, que era grande e dizia:
“Peço a quem encontrar essa bebezinha linda, de quinze dias de vida, que a
criem para mim, mas, não quero que ela pense que vocês são os pais dela. Eu
quero que ela saiba que teve uma mãe que morreu sem poder criá-la. Quero apenas
que a eduquem. Quero uma casa para ela crescer, uma cozinha onde comer, mas,
por Deus, quero que ela cresça sabendo que eu sou a sua mãe, não quero que ela
pense que é adotada. Eu era a única parenta dela. Não temos mais parentes. Eu
morava com o meu pai que era viúvo. Quando eu me engravidei o meu namorado me
abandonou. O meu pai ficou sabendo e foi atrás dele na Argentina. Nós morávamos
em Santa Maria no Rio Grande do sul. Não tínhamos mais parentes. Ao se
encontrarem, meu pai e ele, Em Buenos Aires, após uma briga tamanha, trocarem
tiros e ambos faleceram. Eu morava de aluguel. Eu trabalhava em uma loja de
informática. Quando chegou o dia do parto eu me internei no Hospital
Universitário. Tive parto normal. No próprio Hospital eu registrei a criança.
Assim que tivemos alta do hospital eu peguei um ônibus e vim para o mais longe
possível. Durante a gravidez eu descobri que era portadora de uma doença grave.
Osteosarcoma já com múltiplas metástases em vários órgãos. A medicina me deu
poucos anos de vida. Até pensaram que eu não conseguiria levar a gravidez a
termo. Eu sabia que iria falecer e, a minha princesinha acabaria em um
orfanato. Não conheço vocês. Criem a minha bebê, mas, por favor, não a deixem
pensar que ela é sua. Pode parecer estranho, mas, ela deve crescer achando que
é minha. No pen drive estão todas as fotos de minha gravidez e, durante o
parto, no Hospital, assim ela vai me conhecer e me amar. Adeus.”
O dia amanheceu e, decididos a ficar
com a criança, meus pais foram até a cidade comprar roupas para a bebezinha e,
leite em pó. Era simples, dizia minha mãe, ninguém nos conhece e, portanto,
podemos atender o pedido da mãe dela. Não temos outra saída. Se não
concordarmos temos que entregá-la a um juizado de menores, o que a mãe morta
não quer. Podemos falar que é filha de uma empregada. Ou não falamos nada.
Vamos atender o último desejo da mãe dela, conforme ela pediu. Vamos atendê-la
exatamente como ela pediu. Alana vai crescer amando a sua mãe verdadeira,
espiritualmente.
Alguns quilômetros depois, no
caminho da cidade de São Mateus, ainda na estrada do sítio, policiais se
preparavam para tirar um corpo que estava pendurado em uma árvore, vítima de
enforcamento. Poucos curiosos observavam. Também meu pai parou o carro.
Verificaram que era o corpo de uma jovem. Estava sem documentos.
Em São Mateus, uma linda cidade
do litoral norte do Espírito Santo, meus pais compraram um lindo enxoval para a
bebezinha, alimentos para ela e para nós. Em conversa em uma loja de roupas
infantis, também ficaram sabendo que a moça encontrada morta não era da região,
que estava sem documentos e muito emagrecida. Chegaram a ver uma foto em um
jornal da cidade. Tinha um belo rosto.
Aproveitaram para levar a
criança em um pediatra e começar o esquema de vacinação.
Voltaram radiantes para casa. A etapa
seguinte, antes mesmo de começar a desmontar as caixas da mudança, fomos ver as
fotos do pen drive. Estava bem registrada a gravidez e o parto. Não tiveram
dúvidas, a suicida era a mesma das fotos do pen drive. Poderiam ficar
tranquilos que ninguém poderia tomar a bebezinha. Lamentaram muito o destino da
jovem suicida e da sua história triste.
Meus pais começaram a organizar a
mudança, mas, primeiro montaram o berço que compraram na cidade. Era lindo o
berço. Conforme combinado, a companhia de mudanças chegou para montar os
móveis.
Depois de toda mudança organizada,
meu pai pegou o pen drive e, com a minha mãe junto, foram à cidade, procuraram
um estúdio de fotografia. Contrataram um serviço longo. Pediram que fosse feito
um lindo álbum com as fotos do pen drive. Pediram também, que duas das melhores
fotos da mãe suicida, uma no início da gravidez e outra mais na metade
gravidez, quando já aparecia o abdome gravídico, mas, a mãe ainda parecia estar
bem de saúde e, que, depois fossem feitos dois painéis ocupando duas paredes do
quarto da bebê, do chão ao teto. Queriam que a vontade da mãe fosse cumprida da
melhor forma que pudessem fazer. Desta forma a criancinha cresceria junto com
as lembranças de sua mãe.
__Meu nome é Enzo. Eu saí para
conhecer melhor a nova moradia, o nosso sítio. Que lindo! Que lindo... A
barulhenta cachoeira enche a sua queda de gotículas cristalinas onde se desenha
um majestoso arco-íris. Montanhas azuis se erguem no horizonte, de onde uma
leve brisa desce para beijar a sinfonia da cachoeira e acariciar um cenário de
paz e tranquilidade. O lugar ideal para a minha mãezinha se acostumar com a
ideia da trágica morte de seus pais, meus avós que ainda amo muito. Se eu fosse
um poeta diria, que tudo aquilo era um pedaço do Espírito Santo tocado pelas
mãos de Deus, ou, para os incrédulos, um toque mágico de uma fada benfazeja.
Eu fui até o rio que nascia da
cachoeira. Uma revoada de pássaros voou do capinzal, assustados com a minha
presença. Um bando de capivaras se aquecia ao sol, observado o rio e se
alimentando de plantas aquáticas. Ficaram assustadas e fugiram quando me viram.
Fui andando pelo capim a beira rio, quando me assustei com um animal morto e um
filhotinho chorando ao lado. Corri a chamar o meu pai. Ele veio.
__Meu filho, é uma fêmea de
lobo Guará. Está morta. Parece que foi atingida por um tiro, coitada. Quanta
maldade, meu Deus. Vamos enterrar a loba e cuidar do filhote. Parece que viemos
aqui para cuidar de filhotes dos outros, não, meu filho?
__Que bonitinho, papai. Posso
ficar com ele?
__Sim. Vamos domesticá-lo. Mas,
bonitinho ele não é.
__Ah! É sim, papai.
O meu pai era um cara legal.
Ele fez um buraco bem fundo, colocou o corpo da loba dentro, cobriu com terra e
ainda fez uma cruz com galhos de árvore amarrada com barbante e colocou na
sepultura. Depois ele observou bem a beleza do lugar que se estendia até as
longínquas montanhas azuis e balbuciou que seriamos felizes ali.
Voltamos para casa para mostrarmos o meu lobinho para a mamãe...
__Artur, você está louco? Vai
deixar nosso filho brincar com um lobo?
__Não, Alice. Ele é
recém-nascido e vai crescer domesticado. Amanhã vamos levá-lo a um veterinário
em São Mateus. Ele vai nos orientar como cuidar dele. Agora, Enzo, vá arrumar
os seus brinquedos em seu quarto, Ajude-nos a acomodar as coisas da mudança.
__Sim, papai. Depois eu posso
brincar com Alana?
__Pode sim, mas, depois que der
mamadeira para o seu lobinho.
No dia seguinte levamos o
filhote a um veterinário em São Mateus. O profissional foi muito claro sobre o
destino do pequeno filhote.
__É ilegal manter um animal
silvestre em cativeiro. Você não pode ficar com ele. Vou ficar com ele para ver
se está com alguma doença e depois vou entregá-lo às autoridades competentes.
Mas, estou sentindo que você vai chorar. Não fique triste. Eu vou lhe dar um
filhote lindo. É um filhote de Husky Siberiano que eu tenho para vender. Mas,
não vou cobrar de você. Eu vou lhe dar de presente e você deixa o lobinho para
eu o levar para onde ele vai crescer e ser readaptado à natureza e, no momento
certo, vai retornar à mata de seu sítio.
E, indo até a área de criação, pegou um filhote e deu para Enzo que ficou
radiante com a beleza do animal.
__Olha papai. Que pelo lindo!
__Que engraçado, filho, ele tem
um olho azul e o outro castanho...
__Isto se chama heterocromia. É
muito lindo. Leve-o, cuide bem dele. É um filhote macho.
__Ele já tem nome, Doutor?
__Sim. Por causa das cores
diferentes dos olhos dele, eu dei o nome de Bowie.
__Como? Bowie?
__Sim, em homenagem ao cantor
David Bowie que também tinha heterocromia.
__Quanto eu devo pela consulta,
Doutor?
__Nada. O seu filho já pagou me
ajudando a devolver o lobinho à natureza. Você, Enzo, pode visitar o Centro de
Recuperação de Animais Silvestres sempre que quiser. Assim o lobinho vai se
acostumar com você e, quando ele crescer e for solto na mata de seu sítio, ele
e você poderão ser amigos. Vou escrever o endereço. Todas as manhãs eu estou
lá. Me procure e eu facilito a sua amizade com este animalzinho. Combinado?
Aqui está o endereço.
__Combinado. Irei lá sim. Obrigado pelo Bowie.
__De nada. Vão com Deus.
__Vamos Bowie...
Meus pais se davam muito bem.
Aquela fortuna que, em vida, meu avô já havia aplicado em nome de meu pai, não
poderia ficar parada, desvalorizando. Os dois se perdiam conversando o que
fazer. Nós não conhecíamos todo o sítio. Atravessamos o rio de barco e, pela
primeira vez fomos caminhar do outro lado próximo à mata densa. Confesso que
ficamos com medo. Medo de algum animal feroz sair daquele pedaço de mata
virgem, mas, apenas pássaros, pombas e borboletas pareciam nos dar as
boas-vindas. Era realmente um lugar encantador, era mesmo o que a minha mãe
necessitava para amenizar a perda de seus pais tão tragicamente. Enquanto
passeávamos meus pais mantinham a conversação sobre empreendimentos e,
decidiram apostar em turismo hoteleiro.
Assim que chegamos em casa
foram direto para a internet e já se matricularam em um curso técnico de
hotelaria à distância. Ficaram muito empolgados que muito se dedicavam aos
estudos online. O meu pai era engenheiro civil aposentado, ex-professor
universitário. A minha mãe assistente social, também aposentada.
A empolgação era sem limites.
Traçaram um plano cuidadoso. Como o meu pai era engenheiro civil, sempre a
empolgação pesa para este lado. Os dois velhos amantes inseparáveis, temendo a
velhice e a possibilidade de necessitarem de serem assistidos em casas de
repouso, para não falar em asilo, futuramente, chegaram a um plano mirabolante,
enquanto estudavam com afinco o curso técnico de hotelaria. Iriam investir em
hotéis moradia definitiva para idosos. Velhos sem parentes, aposentados, velhos
pais de filhos que trabalham e não conseguem dar uma assistência carinhosa,
velhos de famílias das grandes cidades que adoram frequentar o litoral e não
tem onde deixar os seus. Sim. O mercado era grande. Meu pai já voltou para a
sua prancheta aposentada e começou a rabiscar o projeto dos apartamentos.
Já desenhou um apartamento. Muita iluminação, ausência de degraus. Portas
largas. Sala confortável, quarto espaçoso com grandes armários de portas
deslizantes com cofres em seu interior, com suíte onde todas as portas,
inclusive do banheiro, eram largas, cadeiras de banhos retráteis no banheiro,
seguradores de metal no banheiro e próximo ao vaso sanitário. Cozinha com o
espaço necessário contando com fogão elétrico, micro-ondas e moderno sistema de
conservação de alimentos. Quem não quisesse usar a cozinha, um refeitório com
alimentação balanceada estaria à disposição.
A minha mãe observou que tudo estava perfeito e, agora, seria comprar terrenos
e começar a construir. Só que meu pai já estava além.
A ideia era ter hotéis no litoral do
Espírito Santo. Procurando em sites especializados, meu pai viu que, muitos
hotéis que haviam sido construídos visando a copa do mundo em 2014, no Brasil,
estavam fechados e à venda. Ele procurou uma imobiliária autorizada e foi ver
um destes prédios. Em uma frequentada praia capixaba, um luxuoso prédio, hotel,
de doze andares estava fechado e, conforme observou, com uma dívida imensa. Em
princípio meu pai buscou os credores e fez uma negociação que servisse a ambas
as partes e conseguiu comprar o prédio. Depois de todos os trâmites legais,
contratou uma empreiteira e começou a reformar o hotel abandonado. Ao mesmo
tempo, comprou imóveis ao lado e projetou uma fantástica área de laser e
esportes.
Dois anos depois o hotel, o primeiro de uma programada rede, estava autorizado
a funcionar.
Uma empresa especializada em
propaganda, imediatamente, jogou anúncios em todas as mídias. A procura e
reservas esgotaram as vagas em uma semana. A maioria do Estado de Minas Gerais,
muitos do Estado do Espírito Santo e, idosos solitários de muitos Estados do
Brasil. Em alguns meses todo o sistema estava funcionando.
Um selecionado e cuidadoso cadastro
de médicos, fisioterapeutas, nutricionistas e fisioterapeutas, todos
independentes do hotel, estavam no rol de consultas dos familiares dos
moradores. A grande maioria usava os serviços de refeição do hotel. Alguns
poucos usavam a cozinha de seu apartamento.
Que inteligente projeto fez o
meu pai. O lucro era imenso. Em cinco anos, onze destes hotéis funcionavam nas
praias capixabas. O meu pai multiplicava a herança recebida de meu avô.
Eu e Alana frequentávamos escola de
tempo integral em São Mateus. Eu já tinha dez anos e, Alana, cinco. Aos finais
de semanas e feriados colegas, meus e dela, iam conosco para o nosso sítio. Meu
pai já havia construído uma bela estrutura de diversão desde quadra
poliesportiva, patinação, corrida musculação e piscina. Por isso todos gostavam
de passear lá. Às vezes esquecíamos a piscina e nos atrevíamos em divertidos
banhos na cachoeira cristalina e barulhenta que terminava no lindo rio de águas
claras. Uma ritmada orquestra de pássaros embelezava a nossa diversão.
Coloridas borboletas na vegetação ribeirinha e, pequenos animais da mata
frequentadores do rio já não fugiam com a nossa algazarra.
Alana, tão linda com os seus cinco
aninhos, não se desgarrava de mim. Até me impedia de me aproximar das bonitas
garotas de minha turma, adolescentes como eu. E, a cada ano que passava, os
olhares de alana para mim, não eram de irmã, eram diferentes. Estranhamente, eu
gostava. Na verdade, não éramos irmãos, nem adotivos, ela apenas estava sendo
criada no mesmo lar do que eu. Isso parecia me confortar, pois, embora ela
fosse uma criança ainda, eu gostava do jeito diferente dela gostar de mim.
Eu completei dezesseis anos e, já iria
fazer faculdade. Meu pai me convenceu a fazer Faculdade de Hotelaria. Com muita
razão, pois, nesta altura ele já tinha uma rede de vinte e um hotéis em
diversas praias famosas do Brasil. Todos funcionando como luxuosos “asilos”,
ou, como queira, “casas de repouso”. Em épocas de temporada de veraneios, os
parentes aproveitavam as praias e, ao mesmo tempo, visitavam os seus velhos.
Era um sucesso absoluto.
Eu fiz apenas um curso técnico
de Hotelaria em Paris, na França. Terminei com dezoito anos. Fiquei dois anos
lá. Voltei para casa feliz, pois, eu sentia uma saudade de Alana que doía em
mim. Quando cheguei para ficar, Alana chorou tanto, tanto de fazer dó. Algo me
incomodava. A saudade que eu sentia de meus pais era diferente da que eu sentia
de Alana. A gente se falava todos os dias em vídeo chamada. Eu sempre ligava
obedecendo o fuso horário para não atrapalhar o sono e as atividades escolares
dela.
Eu retornei ao Brasil e não mais nos desligamos.
Eu comecei a trabalhar com o meu pai
na administração vitoriosa dos Hotéis de Idosos. Era uma moradia cara. Existia
quem pagasse. Sempre que não estava em alguma atividade, Alana ia comigo para o
escritório. Minha mãe a aconselhava a ir brincar com amigas da idade dela e,
ela desconhecia. Alana chamava a minha mãe e o meu pai de tia e tio. Meus pais
estavam respeitando um pedido de Alessandra Schneider, mãe falecida de Alana.
O tempo corria. Alguns meses antes de
Alana completar quinze anos, meus pais começaram a programar uma grande festa
de debutantes, não só para ela, mas, para todas da região que quisessem
participar.
Assim como o meu avô havia feito, o
meu pai passou todos os seus bens para mim e, para Alana. Mesmo antes de
começarmos a trabalhar, já éramos multimilionários. Eu trabalhava com vontade
junto com os meus pais. Alana não se desgarrava de mim. Como ela era bela,
sensível, simpática e carinhosa.
Enfim, chegou o dia do baile das
debutantes. Meninas moças de todo litoral capixaba embelezavam o salão de um
badalado clube da região. Primeiro, a valsa das debutantes. Meu pai era um pé
de valsa e esnobou com a garota mais bela da festa, Alana. Depois a festa se
transformou em um baile comum. Eu dancei com algumas colegas. Enquanto todos se
divertiam, eu observei que Alana recusava todos os convites de amigos, para
dançar. Fiquei preocupado e, ao voltar para a nossa mesa, notei que ela estava
triste.
__Alana, posso saber por que
você não dança?
__Ninguém me pediu para
dançar...
__Não, não! Eu estou observando
você. Muitos amigos tentaram dançar com você e foram recusados. Posso saber por
quê?
__Porque quem eu queria que me
convidasse não o fez.
__Alana, você poderia ter ido
até ele e o tirado para dançar, não?
__Mas, ele não parava de dançar
com outras moças. Era um assanhamento só. Não me dava chance.
__Eu posso saber quem é o felizardo?
Enquanto você pensa, dance comigo...
Sem esperar, Alana se levantou.
Eu a peguei pela mão e caminhamos até a pista de dança. Eu senti uma felicidade
imensa. Confesso que fiquei em dúvida se podia ou não estar tão feliz assim.
Ela parecia flutuar. Ela parecia não estar ali, ou, apenas dentro de mim, ou,
eu dentro dela. Parecia que o baile fora feito para mim... parecia que a
orquestra tocava para mim. Durante o resto do baile, quase não voltamos para a
mesa. Enciumado, meu pai veio até nós e a retirou dos meus braços. Eu cheguei a
ficar aliviado. Na minha cabeça eu a via, ainda, dentro daquela caixa de
papelão na varanda de nossa mansão do sítio. Eu perguntei a ela se não ia me
mostrar o seu pretendido.
__Vou sim. Fique atento, não me
perca de vista, pois, eu vou dar nele um beijo na boca.
__Eita!!!!!
Eu senti que a estava amando.
Tive medo de vê-la beijando o seu pretendido. Antes da luta eu já me sentia
derrotado.
Quando o baile terminou e, voltávamos
para casa, Alana caminhava junto a minha mãe, a caminho do carro. Logo atrás,
meu pai elogiava muito a minha dança com Alana, E, o fazia tanto que tive medo
de que ele já tivesse notado o meu irresponsável sentimento. Acho que fiquei
vermelho. Eu não saberia responder, se ele me questionasse. Mas, não aconteceu.
Enquanto ele ajudava a minha mãe a
colocar as roupas e os presentes no porta-malas do carro, eu ajudei Alana a
entrar no banco traseiro e, também entrei. Sozinhos no veículo, eu tentava
ajudá-la a ajeitar o seu lindo vestido de debutante quando ela puxou docemente
a minha cabeça e me deu um inesquecível beijo na boca. Uma força estranha
dentro de mim também a beijou intensamente. Nos largamos abruptamente, quando o
meu pai entrou no carro. Tremíamos de medo, ou, de felicidade, não sei. Fomos
até à mansão do sítio sem conversarmos.
Muito romântica, a minha mãe ligou o
rádio onde músicas apaixonantes nos incendiava. As nossas mãos se procuravam no
escuro do carro. Não conseguíamos nem pensar como seria a nossa convivência
dali em diante.
Chegamos. Meu pai ficou para trás
colocando o carro na garagem. Era muito tarde, quase dia. Mamãe deu ordem à
governanta que nos preparasse algo para comermos. E, continuou dando ordens...
__Alana, vá tomar um banho e
venha comer alguma coisa. Você também, Enzo, vá se banhar. Vamos comer e dormir
antes que o dia amanheça.
Neste momento, meu pai apareceu
com uma garrafa de vinho e me intimou a beber com ele. Novamente eu temi que
fosse apenas um pretexto para reprovar o meu comportamento com Alana no baile.
Não aconteceu. Ele estava muito feliz e queria apenas comemorar. Ainda bebíamos
quando Alana voltou do banho. Eu nunca a tinha observado assim. Descalça,
enrolada em uma toalha que realçava as curvas certas de seu corpo divinamente
desenhado, cabelos molhados a lhe escorrer pelo ombro desnudo. Ela me lançou um
olhar tão provocante e belo que até o meu velho cão, Bowie, se levantou de seu
sono preguiçoso e, latiu. Acho que deixei entornar o vinho.
__Enzo, vá para o banho. Pare
com esse vinho. Você também Artur, vá se banhar.
Comemos e fomos dormir.
No outro dia nós acordamos muito
tarde. Alana ainda estava em seu quarto e, desconfortado, com medo do
reencontro, eu saí bem cedo com desculpas de pescar. O calor era intenso. O meu
pai gostou da ideia e foi comigo. Meu pai não gostava muito de pescar no rio.
Ele havia feito um desvio do rio, próximo à cachoeira, construído uma linda
represa onde tinha uma criação do peixe lambari. Ele gostava de pescar lambari,
prepará-lo para comer como petisco quando estivesse tomando o seu vinho de
todas as noites.
Estávamos bem distraídos quando Minha
mãe e Alana apareceram se banhando na cachoeira. O meu coração disparou. O meu
pai me chamou para irmos também nos refrescar. Eu preferi não. Não fui. Parecia
que Alana estava muito mais linda do que antes. Um lindo arco-íris se formou
nas cristalinas gotinhas espalhadas pela barulhenta cachoeira. Eu tentei, mas
não consegui não olhar para ela. Ela e mamãe me chamaram várias vezes, mas, eu
não fui.
Meu pai e minha mãe mergulharam no
rio. Alana, com um biquini que nada escondia, correu até onde eu estava e,
aproveitando que ninguém observava, abraçou-me pelas costas e balbuciou em meu
ouvido...
__Você não vai conseguir escapar
de minha “gostosura” ...
E, puxando com carinho a minha
cabeça deu-me um beijo. Agora um beijo mais demorado e mais gostoso do que o
primeiro, no carro. Eu não consegui segurar aquela paixão desenfreada que
desconhecia as rédeas de meu raciocínio e a abracei devolvendo aquele beijo que
tão bem me fazia, molhando a minha roupa naquele corpo molhado da água da
cachoeira.
__Alana, não faça isso comigo.
Eu não posso amar você! Todos acham que somos irmãos. Você ainda é uma
criança...
__Enzo, meu querido, eu amo
você, eu sempre amei você... eu quero você! apenas crescemos juntos na mesma
casa, mas, não somos irmãos. A sua mãe não é a minha. A minha está nas fotos
das paredes de meu quarto. Não existe processo de adoção, somos filhos de pais
diferentes, não somos irmãos.
E, para despistar os meus pais
que corriam em nossa direção, Alana me pegou pela mão e corremos em direção ao
rio. Eu mergulhei de roupa e tudo. Ela já estava de biquini. Brincamos na água
por muito tempo. Tirei a minha bermuda e a minha camisa e as joguei na margem.
Sim, é claro, eu estava de short de banho embaixo da bermuda.
Os meus pais nos avisaram que estavam
indo embora. Nós ficamos nos envolvendo em nossa paixão irresponsável. Chegou
uma hora em que, eu fiquei com medo da iminente consequência de nossa paixão e,
embora querendo ficar com ela no rio, necessitando ficar, eu a deixei me
chamando de volta e corri para casa.
O meu pai ajudava a empregada a
fritar grande quantidade de lambari. Para não me arriscar com Alana, eu me
ofereci para ajudar., mas, mamãe não deixou e me mandou ir para o banho.
Tomei uma gostosa ducha e voltei
seguindo o cheiro de lambari frito. Meu pai degustava o seu vinho comendo
aquele peixinho gostoso. Ele me ofereceu uma taça e, apesar do questionamento
de mamãe, eu aceitei. Mas, eu não queira nada daquilo, eu queria Alana e,
sentia que não tinha este direito. Nesta hora ela chega na cozinha
irresistivelmente provocante, pés descalços, uma esvoaçante saída de banho que,
inutilmente, tentava esconder a beleza daquele corpo mágico. Sentou-se ao lado
de mamãe, bem em minha frente. Olhou dentro de meus olhos. Pegou um lambari bem
fritinho e, sem desviar o olhar do meu, o colocou em minha boca, deixou que eu
mordesse só a metade e, colocou a outra metade na boca dela... Meus pais não
punham maldade em nada. Oh! Meu Deus. Resolvi me embriagar. Assustei o meu pai
de tantas vezes em que eu enchia e esvaziava a minha taça.
Almoçamos e eu fui dormir. Dormindo
e, perdendo aquela tarde linda, tentando destruir aquele instinto animalesco
que eliminava o meu raciocínio, tentando fugir de Alana.
Eu dormi pouco naquela tarde.
Pouco mais de uma hora, eu acho. Acordei com a minha mãe batendo na porta de
meu quarto...
__Enzo! Enzo, eu posso entrar?
__Sim, mamãe, com prazer.
Entre.
__Você conseguiu dormir? Não
faça como o seu pai, tá? Não beba tanto como você fez antes do almoço, ok? Mas,
não quero falar disso, nem reprovar você. Eu quero falar sobre você, Enzo e,
Alana.
Nesta hora eu me assustei. Como
ela teria descoberto sobre mim e Alana? Será que Alana contara sobre nós?
Tentei me defender...
__Não meu filho, não diga nada
agora. Deixe-me falar rapidamente, pois, como vê, o seu pai já está buzinando
lá fora me aguardando. Vamos a uma reunião em Vitória, no consulado da
Austrália. Empresários australianos estão querendo uma parceria e querem saber
sobre a nossa rede de hotéis para idosos.
__Mas, mamãe, eu e Alana...
__Você e Alana estavam lindos
no baile de debutantes... Você e Alana foram eleitos o casal mais perfeito da
festa. Sábado terá um happy hour para a entrega dos presentes das debutantes e,
premiação dos dez casais que mais se destacaram. Vocês dois ganharam em
primeiro lugar!
__Verdade, mamãe? Que legal.
Alana estava realmente linda e, como ela dança bem! Ela merece o prêmio...
__E, tem mais, meu filho. Vocês
estavam muito lindos nadando no rio hoje pela manhã. Eu e o seu pai nos
orgulhamos muito de vocês dois.
__Obrigado, mamãe. Eu e Alana
amamos muito vocês. Levem-na com vocês para o encontro no consulado. Ela vai
gostar.
__Como assim? Ela está se
arranjando dizendo que você a convidou para ver um filme em São Mateus!? E é
melhor você se apressar, pois, ela já está quase pronta.
Eu fiquei sem palavras. Eu não
iria segurar aquele amor por muito tempo. Alana estava apertando o cerco... e,
eu gostava muito, mas, sentia que não poderia fazer isso, ela era uma criança
ainda.
__Até mais, meu filho. Apreciem
bastante a noite...
__Até mais mamãe.
Eu não concordava comigo mesmo. Eu
necessitava ficar sozinho com Alana, eu estava irresponsavelmente apaixonado.
Eu entendi, agora, porque, desde que ela era bebezinha, eu adorava brincar com
ela e, ela ficava feliz com a minha presença. Ela me olhava diferente. Um
diferente que eu adorava olhar. Não tenho dúvida, eu a amo perdidamente. Ela
também tem demonstrado que me ama, porém, de uma forma inocente e perigosa. Nós
sempre nos abraçamos, desde sempre, gostosamente diferente. Muito recentemente
é que este amor explodiu e, nos beijamos. Nos beijamos três vezes, eu acho.
Mas, a cada beijo, mais nos sentimos desejosos de algo mais. Eu quero isso, meu
amor por ela quer isso, meu corpo quer isso, mas, sei que meus pais não vão
entender, a sociedade não vai entender. Ao mesmo tempo eu sentia não conseguir
me controlar. Eu não podia ficar sozinho com ela. Eu não podia ir ao cinema com
ela, pois, eu sentia que ela não queria ver filme nenhum. Resolvi então sair
sem ela me ver, ir passear em algum lugar e, voltar apenas muito tarde da noite
quando ela já estivesse dormindo.
É isso mesmo. Eu me banhei e me
troquei rapidamente. Estava calor. Vesti uma bermuda linda, uma camisa bem
fresquinha e o meu mais bonito tênis. Usei o meu mais fino perfume que eu
trouxera de Paris quando lá estudava. Saí furtivamente em direção à garagem.
Sempre tentando não ser visto.
Assim que eu abri a porta da garagem,
que surpresa! Uma surpresa que, deveria ser ruim, mas, me fez de uma felicidade
sem tamanho... e,como fez!
Alana estava dentro do carro me
aguardando. Ela era mais inteligente e mais decidida do que eu. Mas, fiquei
feliz. Sim, fiquei feliz, pois, era ali mesmo que eu a queria, embora não
devesse. Por ser mais velho, por ser adulto cinco anos mais velho, por ela
ainda ser uma criança de quinze anos, eu deveria conversar sadiamente com ela e
lhe mostrar que aquele era um sentimento que não poderíamos sustentar.
Eu me acomodei ao volante e, tentei
falar, mas, eu tive a minha fala interrompida pelo mais ardente beijo de amor.
Eu, apaixonadamente, entreguei-me àquele beijo. Acho que tínhamos a mesma
incerteza da possibilidade daquele amor, pois, por um instante ficamos
abraçados sem nos olharmos. Quando nós nos olhamos, estávamos chorando,
silenciosamente. Fomos surpreendidos pela governanta que entrou na garagem...
__Perdão, meus queridos, eu vim
ver por que a garagem estava aberta. Você, Enzo, costuma deixá-la aberta quando
sai e o seu pai não gosta, você sabe disso.
Eu saí do carro, meio sem saber
o que dizer. Certamente eu estava vermelho. Tive medo de falar e a minha voz me
condenar. Ela nos viu beijando. Tentei qualquer desculpa e a minha voz não
saia. Ela me viu nascer, me tratava como filho. Eu tive medo, vergonha e,
tremia. Não consegui falar e a abracei fortemente. Alana também saiu do carro
e, se juntou ao nosso abraço. Por algum tempo, ficamos abraçados chorando sem
saber o que dizer.
__Dona Nanci, perdão. Acho que
não é o que você está pensando...
__Como assim? Você acha que eu
não sei diferenciar um beijo de amor de outros beijos apenas de desejo sexual?
Enzo e Alana. Eu sei ser muito discreta. Eu sempre observei vocês dois. Sempre
soube que o “gostar” entre vocês dois era diferente. Eu sempre soube que vocês
se amam. Acho até que demorou a acontecer. Agora que se declararam, cada minuto
a sós será mais gostoso. Eu acho que vocês não podem ter medo de se amarem. Eu
não consigo enxergar cada um de vocês amando pessoas diferentes. Mas, entendam,
Sr. Artur e Dona Alice têm que saber disso. Vocês dois vão chamá-los amanhã, ou
talvez hoje mesmo quando voltarem do consulado, os dois juntos vão confessar
tudo isso. Não vai ser difícil. O amor sincero está estampado em seus olhos. Se
disserem que são irmãos, mostrem as suas identidades. Não têm os mesmos pais.
Não têm o memo sobrenome, aliás eu sempre torço a língua ao tentar pronunciar o
sobrenome de Alana, “S-C-H-N-E-I-D-E-R. Alana sempre chamou Dona Alice de tia
e, Sr. Artur de tio.
__Não sabemos o que dizer, Dona
Nanci.
__Também, não existe nenhum documento
de adoção. Vocês protagonizam a mais linda história de amor que eu já pude ver.
Nem “Romeu e Julieta” foram mais lindos. Vão se divertir, mas, não se exponham
à opinião pública antes de seu pai e a sua mãe, Enzo, saberem. Sejam discretos.
Depois que conversarem sadiamente com Sr. Artur e Dona Alice, eles, não pensem
o contrário, demorarão a assimilar esta ideia. Eles vêm vocês como irmãos. Ela
sempre se aconselha comigo e eu vou convencê-los de que, nenhum preconceito
familiar, religioso ou social vai conseguir separar este amor. Não é apenas um
amor de dois jovens lindos, saudáveis, atraentes, com os hormônios aflorando
pela pele almejando uma transa. É o amor que eu testemunhei em em seus olhinhos
desde quando eram criancinhas. O amor que eu vi doer em Alana quando você
estava estudando em Paris, Enzo.
__Obrigado, Dona Nanci.
__Vão se divertir. Sejam
discretos. Não permitam que ninguém os vejam se beijando, como me permitiram.
Podem se beijar e beijar muito, mas, por favor, não passem disso. Eu vou
convencer os meus patrões. Vou até sugerir que sábado, na festa dos presentes e
condecorações de debutantes e premiados, o Sr. Artur, como presidente do clube, anuncie e explique a razão de vocês poderem
se amar. Agora vão se divertir.
Eu dei ré lentamente no carro,
manobrei em direção à saída. Sorrindo, Dona Nanci nos acenava. Parecia feliz.
Pena que ela não pudesse decidir, sozinha, o nosso destino. Antes de chegarmos
na autoestrada da Rodovia do Sol, ainda no sítio, na curva do caminho eu
perguntei a Alana qual filme ela queria ver.
__Que história é essa de filme, Enzo?
__A minha mãe me acordou dizendo que
você dissera a ela que eu a havia convidado para ver um filme, mas, eu não
convidei você para ver filme nenhum.
E, beijando aminha mão que estava
firme no volante...
__Ah! Sim. O meu filme é você Enzo.
Eu quero estar perto, eu sinto você no filme de minha vida, eu amo você.
Beija-me forte, beija-me com paixão, faça-me esquecer de mim e sumir dento de
você!
Instintivamente, nós saímos do carro
e nos abraçamos fortemente naquele escuro sem testemunhas. Nos beijamos muito,
mas, conseguimos frear as nossas irresponsabilidades e voltamos para o carro.
Eu não quis ficar sozinho com ela. Ao som de belas músicas no carro, nos
dirigimos até Guarapari. A noite estava linda. A Praia do morro estava que não
cabia mais ninguém. Estacionar era impossível. Procurei a garagem de um dos
Hotéis de Idosos de meu pai. Deixamos os
calçados no carro e caminhamos a pé, longas distâncias, pela Praia. A água
aquecida do mar vinha beijar os nossos pés, docemente. Nós nos sentamos em uma
mesa de um casal conhecido. Conversamos até muito tarde. Bebemos água de coco.
Eu não podia ingerir bebida alcóolica, pois, tinha que dirigir dois veículos, o
meu carro e o meu corpo sedento de amor.
Chegamos em casa bem tarde. Nanci nos
esperava.
__Boa noite, Nanci. Meus pais já
voltaram?
__Sim. Eles vieram apenas pegar
documentos e roupas e voltaram. O encontro com empresários foi um convite para
investir no mesmo tipo de Hotéis para Idosos, na Austrália. Você sabe, seu pai
respira dinheiro. Neste momento estão voando no jatinho particular dele para o
outro lado do Oceano Pacífico. Eu já intimei Dona Alice a ter uma conversa com
vocês dois sobre o comportamento de vocês. Depois que se aprontaram, se
despediram e, já no carro, Dona Alicie me chamou e falou, com lágrimas de
emoção, que vocês dois se amam.
__E o que você disse?
__Acho que teria muito a dizer, mas,
ela não esperou e partiu.
Depois Dona Alice nos ordenou que nos
banhássemos e voltássemos para cozinha para comer algo.
Eu voltei primeiro, já de pijama.
Alana chegou a seguir. O seu perfume era o que eu mais gostava. O seu
“pijaminha” de calor, mal conseguia escondê-la de mim. Sempre olhando dentro de
meus olhos, ela se sentou ao meu lado, cruzou as lindas pernas deixando mais à
mostra ainda, nádegas fantasticamente esculpidas.
Nanci
não perdoou.
__Alana!!!!!! Hoje, acho que vou
fechar a porta de seus quartos por fora.
Comemos e fomos dormir. Dona Nanci
cumpriu o que prometera. Fechou as portas de nossos quartos por fora.
No outro dia, nós, como sempre,
acordamos cedo, nos aprontamos e eu fui levá-la para o colégio. Eu abri a porta
do carro para ela entrar. Antes de entrar ela beliscou o meu bumbum. Dona Nanci
deu risada.
__Você, dormiu bem, “irmãzinha”?
__Pare o carro!
__O que foi?
__Pare o carro! Já disse!
Eu
obedeci e parei o carro. Ela me agarrou até raivosamente, me beijou loucamente
na boca, completando...
__Eu não sou sua “irmãzinha”.
Eu não sabia como me comportar,
embora o meu corpo soubesse. Fiz o que tinha de ser feito. Deixei-a, como
sempre, na calçada do Colégio. Senti que ela saiu sem olhar para trás. Votei
para o escritório.
O tempo demorou muito a passar.
Voltei ao final das aulas, à tarde, para buscá-la. O porteiro me avisou que ela
não fora à aula.
__Como assim? Eu a trouxe para a
escola hoje cedo, como sempre faço. Posso saber lá dentro? Com os colegas dela?
__Sim, claro, mas, tenho certeza. Ela
não entrou no colégio.
Depois de conversar insistentemente
com colegas de classe, colegas do colégio, professores, o desespero caiu em mim
como uma bomba. Alana havia desaparecido. Eu corri para a polícia. Não quiseram
nem registrar o caso alegando que a maioria dos desaparecimentos se resolvem
sozinhos nas primeiras vinte quatro horas. Saí de lá com sentimento de revolta
e tristeza.
Voltei
para o sítio e, quando lá cheguei, encontrei Nanci desesperada e, chorando, me
entregou uma carta que um motoqueiro, com a moto sem placa, havia deixado com
ela.
Na
carta, muito mal escrita, eles exigiam...
“ESTAMOS
COM A GAROTA. QUEREMOS UM MILHÃO DE DÓLARES PARA DEVOLVÊ-LA... SEM POLÍCIA OU A
MATAREMOS. AGUARDEM NOVO CONTATO”.
Imediatamente
eu liguei para o meu pai. Eles ficaram desesperados e disseram que eu pagasse o
resgate sim. Estariam voando de volta agora. Mas, não deixasse de ir à polícia,
até pelo descaso inicial.
Quando cheguei na delegacia
antissequestros, imediatamente foi aberto um boletim de ocorrências. O envelope
e a carta foram analisados por papiloscopista. As únicas digitais eram de Nanci
e minhas, o que significa que os sequestradores (ou sequestrador) usaram luvas
para escrever a carta. Um esquema de escuta foi instalado e várias diligências
e interrogatórios iniciadas.
Dois dias já se passaram e novo
contato não acontecia. A minha mãe, quase morria de dor e angústia. Nós
tínhamos aquele dinheiro. Bastaria um novo contato e, tudo estaria resolvido.
Uma semana e, nada. Novas pistas a polícia não as tinham. Um policial parecia
sempre querer me convencer a pagar logo o regate e, acabar com o sofrimento,
mas, a quem? Não havia um novo contato. Comecei a me culpar por ter ido à
polícia. Na carta ameaçavam matá-la se o fizéssemos.
Meu pai contratou um escritório de
advocacia e de detetives particulares, famosos na região. Eles começaram a
levantaar todos os detalhes e ocorrências na região desde dois dias antes do
desaparecimento de Alana.
A minha mãe entrou em um estado de
angústia tão grande que teve que ser internada em um hospital de Vitória.
Quase dois meses e o novo contato não
acontecia. E, nem aconteceria...
Enquanto aguardávamos, quase dois
meses antes, um carro com um casal levava Alana amarrada e amordaçada em um
banco de trás de um carro em direção ao Paraguai, de onde pretendiam continuar
as negociações. Era um policial já reformado e a sua esposa. Acontece que ela
não concordava e não queria aquilo, mas, foi forçada. Durante todo o percurso o
casal discutia e brigava muito. Alana conseguiu se livrar da mordaça e começou
a gritar por socorro. O policial lhe deu uma coronhada violenta e ela desmaiou.
Aí então é que a briga do casal se agravou. Na divisa do Brasil com Paraguai,
eles abandonaram o carro e roubaram outro com Placa do Paraguai. Já estavam em
uma cidade do País vizinho, quando o policial irritado com a esposa começou a
agredi-la fisicamente. Moralmente já vinha fazendo há muito. A esposa tentou
impedir de levar uma coronhada e, lutando com o seu marido, a arma disparou o
matando na hora. Era muito tarde. Ela ficou desesperada. Não sabia o que fazer.
Ela também participara do sequestro e, certamente também seria
responsabilizada. Principalmente depois da morte do marido. Ela era
sequestradora e assassina, agora. Por sorte, ninguém ouviu ou deu importância
ao tiro. Por muito tempo ela ficou ali parada, desesperada sem saber o que
fazer. Logo ela observou que do outro lado da rua tinha um convento. Depois de
muita hesitação ela pegou Alana com dificuldade, desmaiada, e a colocou na
entrada do Convento na esperança de que ela fosse encontrada. Pegou um bom
dinheiro que o seu marido havia levado e, já trocado por Guarani para passarem,
não se sabia quantos dias, até receberem o resgate. Pegou também os cartões
dele e dela, levou o carro para uma estrada deserta, colocou fogo no carro para
apagar as impressões digitais e fugiu. Só ficamos sabendo disso muitos dias
depois do caso resolvido, quando ela, sem risco de ser presa, telefonou para
meu pai e contou toda esta história. Isto muitos dias depois do caso resolvido.
Antes de sabermos este quadro os
detetives contratados, começaram a considerar todas as ocorrências, desde dois
dias antes do sequestro. Na moto sem placa que fora usada para levar a carta
para o sítio, que era roubada, fora identificado uma impressão digital. Um
carro roubado ali na cidade e, que foi encontrado na divisa com o Paraguai,
tinha impressões digitais da mesma pessoa. As duas digitais coletadas
coincidiam com o DNA do corpo encontrado carbonizado no carro em uma estrada
vicinal no Paraguai. Eram de um policial
reformado, que trabalhara naquela delegacia e, por coincidência, pai do
policial que vivia me instigando a pagar o resgate para “acabar” com o
sofrimento. Não tinha dúvidas. Eu fiz uma denúncia formal do policial. Apesar
das evidências eu não tinha provas e, nada poderia ser feito. O caso ganhou
repercussão internacional. Jornais do mundo inteiro estamparam a minha foto e a
do policial na primeira página.
Algumas horas após o amanhecer,
quando os jornais começaram a circular, eu recebi um telefonema de uma freira
que se dizia Madre Superiora, falando de uma garota que fora encontrada na
porta do seu Convento, no Paraguai, há quase dois meses. Eu perguntei como ela
era. A Madre não quis dizer. Inverteu as perguntas querendo saber as
características da garota. Eu falei corretamente. Mesmo assim ela quis mais.
Perguntou se ela tinha algum sinal característico. Eu respondi que ela tinha na
face interna do braço esquerdo uma tatuagem do rosto de uma mulher muito
bonita, que era da mãe dela falecida e, estava escrito em torno da tatuagem
“AMOR DA MINHA VIDA”.
__Você acaba de encontrá-la.
O telefone estava em viva voz e todos
vibraram. Eu não consegui mais falar, cai num choro desesperador, não sei se de
pena de Alana ter passado por tudo isso, de felicidade ou de uma paixão que
ameaçava “enforcar” o meu coração. O meu pai pegou o telefone e continuou a
conversa. A Madre continuou...
__Há quase dois meses, pela manhã,
encontramos essa moça desmaiada na porta do convento. Chamamos o médico que nos
assiste e ele acompanha o tratamento dela aqui mesmo. Ela despertou logo, mas,
nunca havia falado, sempre ficava rezando na capela, quando tentávamos
descobrir alguma coisa ela apenas chorava. Não respondia perguntas, nem faladas
nem escritas. Ela ajudava muito na limpeza, na cozinha, nas obras de caridade,
mas nunca falou. Rezava e chorava muito.
__Só hoje ela falou? Como foi?
__Ela sempre pegava os jornais na
caixa de correios do Convento.
__Então?
__Hoje, quando ela foi pegar os
jornais, ela começou a chorar alto em quase desespero. Nós corremos até ela
para ver o que estava acontecendo. Pela primeira vez, em quase dois meses, ela
falou. Gritava desesperada apontando para uma foto no jornal. Quando
perguntamos quem eram aqueles, ela chorava tanto que quase não conseguia falar.
Depois de muito tempo, já tendo tomado um calmante dado pelo nosso médico é que
ela falou. Disse o nome de Enzo, não disse o que era dela e, do policial ela
disse chorando desesperada que era quem a pegou na entrada do Colégio. Também
disse que se chama Alana. Venham logo buscá-la, pois, ela está sofrendo muito.
Imediatamente corremos para a
Delegacia. Colocamos o Delegado em contato com a Madre Superiora e, tudo foi
confirmado. Imediatamente foi dado voz de prisão para o policial suspeito.
No Jatinho de meu pai, voaram para o
Paraguai, a Nanci, meu pai, nosso Advogado e o Delegado. Mamãe estava muito
debilitada, embora ao ouvir a história já sorriu e pediu comida. Eu não quis
ir. Eu me desculpei dizendo que ficaria com a minha mãe e que a Nanci fosse. Eu
não saberia reagir na frente de meu pai quando a visse.
Segundo
relatos foi um encontro muito forte, de cortar o coração. Ambos choraram. Até
mesmo o Delegado, acostumado a tantas desgraças. Alana, segundo o meu pai,
abraçou e agradeceu a uma por uma das Irmãs de Caridade. O meu pai prometeu
levá-la ao convento sempre que quisesse para matar as saudades. Como o meu pai
sabia que conventos vivem de doações, ele fez um cheque no mesmo valor que os
sequestradores haviam pedido. A Madre quase desmaiou quando viu “um milhão de
dólares”.
Despediram-se
e foram para o jatinho.
Em casa, no sítio, aquele resto de
tarde e noite foi só de festa. Mas nem tudo estava acabado.
Ainda no Aeroporto, o Delegado
recebera um telefonema informando que, o policial preso se enforcara e morrera
carbonizado.
Já na delegacia, o delegado
questionou o Diretor do Presídio. Como poderia uma pessoa se enforcar e colocar
fogo no próprio corpo. No mesmo dia um
preso havia fugido sem deixar pistas e, um agente penitenciário havia
desaparecido. O agente não atendia telefone e, em sua residência, vizinhos
disseram que ele havia se mudado, não sabiam para onde. Após severa
investigação e diversos depoimentos, um presidiário revelou que no dia um
agente saíra com um detento do pátio e ninguém mais o viu. Mostrando as fotos
dos agentes, o mesmo presidiário conheceu o agente que buscara o detento no
pátio. Era exatamente o que estava desaparecido. Autorizada uma exumação do
corpo do policial morto, em dados laboratoriais, descobriu-se que aquele corpo
não era do policial e, sim, do detento supostamente fugitivo. O policial estava
vivo e solto.
O delegado avisou a Artur que eles
estavam correndo risco e, seria bom se ausentassem um pouco da cidade. O
policial e o agente desaparecido, certamente iriam se vingar da frustração.
Artur pediu a Enzo que fosse para um
hotel fazenda com Alana. Deu alguns dias de dispensa para Nanci para ela não
correr risco no sítio. Novamente internou Alice para acelerar a recuperação
dela e, aos empregados do sítio, pediu que ficassem atentos e não se
arriscassem.
Imediatamente Enzo e Alana foram para
um confortável Hotel Fazenda. Nanci estava junto. Enzo não quis se arriscar
sozinho com ela. Nem ele nem Alana saberia se proteger.
Chegaram cansados no Hotel Fazenda.
Banharam-se e desceram para jantar. Antes decidiram se relaxarem no bar do
Hotel para depois deliciarem aquela cheirosa comida rural. Alana pediu um suco
de laranja, Nanci uma cerveja e, eu, um vinho.
Depois do jantar, resolvemos passear
e conhecer as atrações do Hotel. Passeamos por um longo tempo. Depois paramos
próximo à piscina. Tudo era muito bonito. Era um Hotel fantástico. Era uma
estrutura para se descansar realmente.
__A noite está muito quente. Olha que
piscina convidativa. Enzo e Alana, por que não nadam um pouco?
__Não. Acho melhor não. O que acha Alana?
__Por que não, Enzo. Vamos nadar sim.
Não tem ninguém na piscina, vamos também, Nanci?
__Vão vocês. Eu vou continuar aqui no
jardim apreciando a beleza do lugar.
Então, subimos para os nossos quartos
para nos trocarmos. Saímos quase juntos no corredor do Hotel. Um bonito roupão
toalha escondia bem o corpo de alana. Eu já desci de short e apenas uma toalha
nos braços. Quando chegamos na piscina, sem demora, Alana já quis mostrar a sua
classe nas águas. Mergulhou lindamente e desapareceu por uns instantes. Emergiu
do outro lado da piscina. Insistiu que eu entrasse na água. Sentado na borda da
piscina eu estava e continuei. Novamente Alana mergulhou desaparecendo por uns
instantes e, surgiu à minha frente puxando os meus pés. Eu acabei caindo na
água já direto nos braços dela. Mergulhamos agarradinhos. Já dois meses sem um
abraço, sem um beijo. Emergimos juntos e não mais nos desgarramos. Nanci nos
observava. Ela queria nos vendo livres para amar, tanto quanto nós. Então nos
beijamos muito. Nanci já não estava lá. Repentinamente, alguém sentido o clima
de amor, ligou o som da piscina. Apaixonantes melodias nos intimavam a amar.
Alana puxou-me pela mão para fora da piscina. Nos abraçamos carinhosamente e
começamos a dançar. Dançamos um bom tempo. Paramos de dançar e nos envolvemos
em longos e repetidos beijos. Ninguém nos olhava. Apenas a lua cheia, por
detrás dos montes azuis, nos observava, mais parecendo uma lanterna de país de
gigantes querendo iluminar a nossa paixão. Alana se cansou.
__Eu vou dormir, Enzo.
__Você está bem, Alana?
__Sim. Vamos dormir? Não vou assediar
você...
__KKKKK... É por isso que não vou.
__Então vamos comigo. Assim eu mudo
de ideia e...
__Alana, eu vou beber mais um pouco.
Não quer comer alguma coisa?
__Não agora. Eu vou me banhar e
talvez eu peça do quarto mais tarde. Não se embriague, OK°
Alana subiu e eu fui para o bar do
Hotel. Pedi uma dose dupla de uísque.
Inicialmente eu não queria beber, apenas despistei para fugir do risco de estar
a sós com o amor da minha vida. Depois eu mudei de ideia. Eu tinha que ficar
bem embriagado para conseguir desconhecê-la.
Nesta hora o meu pai me ligou dizendo
que o problema já estava resolvido. O policial junto com o agente
penitenciário, mais dois comparsas invadiram o sítio. Só que eles não esperavam
que a polícia os esperava. Houve troca de tiros e todos faleceram. Ele me pediu
para não dizer nada a Alana. Como eu
estava bêbado e não podia dirigir assim, eu fui dormir. Saímos bem cedo no
outro dia.
Mamãe estava ótima. O seu remédio
fora o resgate de Alana.
No Sábado seguinte aconteceu a festa
de premiação de Debutantes e vitoriosos do baile. Foi muito bonito. Eram muitas
garotas e ficamos muito cansados. Voltamos para a casa. Uma gostosa janta nos
esperava. Mamãe nos mandou para o banho. Meu pai disse que não queria jantar.
Queria apenas os lambaris e o vinho. Eu tomei banho rapidamente, e voltei para
a cozinha. Eu, Alana, mamãe e Nanci jantamos. Todos fomos para cama.
Eu não consegui dormir bem. Tive o
sono sobressaltado por pesadelos reais. Em meu sonho eu me perguntava o que eu
estava fazendo com uma criança de quinze anos. Por mais que nos amássemos desde
crianças, Alana continuava uma criança. Eu sentia que não tinha este direito,
mas, o meu coração não me obedecia. Quando eu parecia querer dormir sem
remorso, eu fui acordado por Alana, ainda de madrugada.
__Enzo, Enzo, acorda. Vamos nadar no
rio?
__Você está louca, Alana. Ainda está
escuro, ainda é muito cedo.
__Não Enzo. Está muito calor. A água
do rio deve estar uma delícia, vamos, acorde. Não vai me deixar correndo risco
no rio sozinha, vai?
__Você é mesmo, danadinha, minha
irmã...
__Não me chame de sua irmã.
Levanta-se desta cama e vamos nadar.
Eu sentia que era uma boa ideia. Mas,
ao mesmo tempo eu temia pela minha fraqueza, ou, pela força da minha paixão.
Ela estava com um lindo biquini. O seu
corpo lindo me empurrava para o descontrole de meus desejos. Eu necessitava colocar o short. Pedi a ela
para sair, ou se virar. Ela, ao contrário veio me ajudar a tirar o pijama e
vestir o short. Eu pedi novamente e, ao contrário ela começou a se esfregar em
meu corpo nu.
__Alana, não faça isso comigo. Vou
gritar a mamãe.
__Por que eu não devo? Afinal. tudo
isso vai ser meu. Ou não?
__Deste jeito eu não sobrevivo. Morro
antes.
__Ah! Não. Deus não vai fazer isso
comigo. Vamos logo. Eu quero chegar antes dos pássaros despertarem a aurora.
__Alana, eu estou vivendo uma crise
de remorso. Eu amo você, mas, sinto que não posso usar deste amor para
desfrutar de uma criança de quinze anos. Vamos dar tempo ao tempo.
__Tudo bem, Enzo. Me desculpe. Vamos
continuar camuflando o nosso amor até eu atingir a maioridade. Mas, isto não
nos impede de nadarmos. Vamos.
__E,
não vamos comer nada?
__Você
quer comer? Que tal eu?
__KKKKK...
Já sei. Eu não vou conseguir escapar da sua “gostosura”
Novamente Alana venceu. Saímos sem
fazer barulho, passamos na cozinha e cada um pegou uma maçã e fomos comendo em
direção ao rio. Realmente ainda estava muito escuro. A lua estava linda. Fomos
em direção à cachoeira. Alana me abraçou e, nos beijamos docemente. Eu a peguei
no colo e a deitei na grama fofa. Muitos carinhos, afagos e beijos apaixonantes
que culminaram em uma delicada e demorada transa que, de tão gostosa eu jamais
imaginaria. Alguns minutos de descanso e o amor voltou a acontecer. Desta
feita, mais lentamente, mais delicadamente, pois, o amor estava acima do sexo.
Exaustos rolamos para os lados e ficamos juntinhos. Nesta hora incontáveis
dezenas de pássaros, deixaram os seus postos onde cantavam saudando o novo dia
e, revoaram em ritmados e lindos malabarismos entre nós e o céu que começava a
clarear acima de nós. Parecia um convite para a bela vida que se mostrava.
Parecia um convite para a necessidade de aprender a não mais adiar os desejos.
Nos beijamos intensamente, pegamos as nossas roupas de banho e mergulhamos no
rio. Já dentro d’água é que nos vestimos. Nadamos muito, fizemos planos, demos
muitas risadas e ficamos muito felizes de nos pertencermos.
__Alana, e se você se engravidar?
__Não se preocupe, eu não vou ficar
grávida.
__Como você sabe? Como pode ter
certeza?
__Nanci, sentindo que a cada dia a
nossa paixão saía do controle, me deu e me ensinou a tomar anticoncepcional.
Mais dona de si do que antes, ela
voltou a me beijar. Voltamos para a margem e transamos novamente. A cada
transa, eu me apaixonava mais por aquela guriazinha gaúcha. Voltamos a
mergulhar e nadamos até nos cansarmos. O sol já incomodava bastante. Saímos do
rio e ficamos na cachoeira.
Nanci apareceu, nos alertando que nos
viu sair de madrugada e, que já passava do meio-dia.
__Vocês devem estar famintos. Vocês
comeram alguma coisa?
__KKKKKK... eu comi uma maçã e, Enzo,
comeu duas.
__Não, Nanci. Eu comi apenas uma
maçã, estou com fome sim.
__Não minta Enzo, você comeu duas
maçãs sim...
E, puxando-me pelo braço, saímos
correndo para casa.
__É Alana. Eu estava certa quando lhe
ensinei e lhe dei o anticoncepcional.
Chegamos em casa e fomos direto para
o banho. Mamãe e papai estavam na sala de jantar. Pareciam felizes. Como sempre
papai bebia o seu vinho. Alana estava muito alegre. Alegre até demais. Eu
fiquei com medo do que ela pudesse revelar. Achei melhor tomar um vinho junto
com o meu pai. O que faria se ela contasse tudo, não sei. E ela começou a
falar...
__Pessoal, hoje é o dia mais
importante de minha vida. O que me aconteceu hoje...
Nesta hora eu entornei vinho na
toalha da mamãe, Nanci queimou a mão no forno do assado e, até o meu cão velho,
Bowie, levantou a cabeça e voltou a dormir enquanto Alana continuava.
__Tudo, pessoal, começou com um
gostoso banho de rio pela manhã. Gastamos muita energia brincando no rio e na
cachoeira. Estamos famintos.
Enquanto falava, Alana me abraçou
gostosamente pelas costas e, depois, me puxou pela mão e me levou ao banheiro
dela para ver o que a minha mãe havia escrito no espelho. Eu tentava ler e ela
me dava o maior “amaço”, beijava o meu pescoço e me abraçava forte pelas
costas.
__Pare Alana, eu quero ler e você não
deixa...
__Está bom. Então leia.
“ALANA
MINHA QUERIDA, OBRIGADA POR TER SOBREVIVIDO AO SEQUESTRO. BEM-VINDA DE VOLTA À
VIDA... SEJA MUITO FELIZ... AME A SUA FELICIDADE... FAÇA A SUA FELICIDADE SER
AMADA... AME O AMANTE DE SUA FELICIDADE... A FELICIDADE É UM ANJO VAGABUNDO E
NÃO GOSTA MUITO DE ESPERAR ... NÃO ADIE OS ECONTROS... AME AINDA HOJE... NÃO
DEIXE PARA DAQUI A POUCO...
Depois Alana me beijou demoradamente
na boca e, voltamos para a sala. Ela chegou na sala abraçando e beijando a
minha mãe tantas repetidas vezes. Confesso que fiquei com ciúmes.
__Mamãe, que lindo. Você poetiza tudo
que escreve. Esta mensagem pode ter mais de uma interpretação. Alana deve
agradecer pela felicidade que vai buscar, ou, pela felicidade que desfrutou
hoje?
Nesta hora, Alana me deu um forte
beliscão no bumbum me forçando a dar um grito e pular para frente. Bowie, o meu
cão velho, latiu fraco e saiu da sala. Nanci novamente se queimou na cozinha...
__Alana e Enzo, eu não estou entendo
vocês.
__Nada não, nada não. Enzo está
fragilizado, pois, não queria e, eu o obriguei a comer duas maçãs...
__Ajude-me Nanci. Não consigo
entender nada.
__Não se canse, patroa. Alana e Enzo
tomaram sol quente na cabeça durante toda a manhã. Agora chega de papo e vamos
almoçar...
Mamãe sempre gostou muito de música
e, até durante as refeições, músicas suaves eram ouvidas. Sem nada entenderem
daquela conduta, Alana me puxou da mesa onde eu já começara a almoçar e,
emocionada me convidou a dançar. Embora eu dissesse que não era a hora,
dançando comigo, o que eu temia aconteceu. Deslizando lindamente em torno da
sala de jantar, Alana abraçava-me carinhosamente. Chorava. Chorava
silenciosamente. Sem saber bem por que, todos deixaram os garfos e facas e, sem
conseguirem evitar, seus olhos se encharcaram. Sim, se encharcaram durante a
“oração” de Alana, que, a cada momento, mais se empolgava me conduzindo naquela
dança mágica... Alana era apenas uma criança. Uma criança que se aproveitava da
minha fraqueza e me seduzia. Parecia que alguém sobrenatural falava por ela.
Ela não tinha como fazer aquela oração, sozinha. Seria a mãe dela? Não, eu não
consigo acreditar em vida pós morte. Ou Alana era mais inteligente e sabia que
em uma simples conversação, Artur e Alice talvez não se convencessem da sua
necessidade de amar. E, lindamente me levando em uma dança mensageira e bela,
Amanda não gaguejou em sua prece...
__Meu Deus! Deus de todos os Deuses!
O Senhor, meu Deus, tirou a minha mãezinha antes dela me conhecer bem. O
Senhor, meu Deus, a levou antes que eu a pudesse amar. Eu, Senhor Deus, ainda
consigo recordar, quando eu estava no útero, dos batimentos cardíacos dela e da
alimentação que a sua placenta me fornecia, via sanguínea. Fisiologicamente e
emocionalmente, eu e ela nos conhecemos apenas até eu ser expulsa de seu
aconchegante útero. No entanto, meu Deus, para compensar, o Senhor me deu a
graça de jamais aceitar outra como minha mãe.
Mas, agradeço, Senhor meu Deus, por ter me “jogado”, há pouco mais de
quinze anos, nos bracinhos do Enzo. Desde os primeiros minutos em que nos
olhamos, nós nos amamos. Há pouco mais de quinze anos eu sou a criatura mais
feliz do mundo. Naquele dia, meu Deus, você tirou do meu peito o meu coração e
o colocou no peito de Enzo. O meu coração nunca mais quis sair de lá... está
abraçadinho com o coração dele. Meu Deus, não deixe que ninguém tente tirar o
meu coraçãozinho do peito de Enzo. Preconceitos familiares, preconceitos
religiosos, preconceitos legislativos e sociais podem sufocar a minha
felicidade e matá-la em meus, ainda, pouco mais de quinze anos...
Mesmo sem parar de dançar, cada vez
mais artisticamente, indiferente ao clima de emoção que esfriava aquele almoço,
Alana continuou a sua “oração”.
__Por favor, Deus de todos os mundos,
grite em todos os ouvidos que o meu amor não deve ser legislado. Eu não posso
ficar sem Enzo. Eu amo Enzo, eu quero Enzo, eu não sou eu sem Enzo, eu
necessito me casar com Enzo!
E, soluçando baixinho, Alana parou de
dançar. Descansou a sua cabecinha em meu ombro já molhado pelas suas lágrimas.
Aquela “oração”, de uma criança ainda, mas, cheia de verdade, pareceu nos tirar
do meio de todos. Nada mais existia em meu entorno. Sentíamos um só corpo
isolado no meio do nada e, o nada era tudo que necessitávamos.
__Enzo, meu amor, abrace-me forte.
Abrace-me com a paixão que eu quero ter, faça-me esquecer de mim e só amar
você. Conduza-me por um caminho do qual eu não queira retornar.
E, nos beijamos longamente. As
pessoas na mesa de jantar eram apenas um detalhe. Embora estivéssemos, nós não
estávamos ali. Flutuávamos na abençoada magia de um sonho lindo. Eu, desde
pouco mais de quinze anos atrás, sonho o sonho que ela sonha. Na adolescência,
o nosso sonho explodiu como um sentimento encantador. Um encanto que mais
abrilhanta o arco-íris da cachoeira, um encanto que faz mais bela a lua grande
que tem que fugir na alvorada, que multiplica o balé de pássaros e das
coloridas borboletas esvoaçantes da margem de nosso rio de águas claras, um
encanto que transforma os nossos corações em um só coração.
O almoço de todos esfriava. A fome
daquele almoço esfriava na mesa. O bilionário dinheiro de meu pai não sabia
como comprar uma autorização para “irmãos”
se amarem, mesmo sabendo que eles não eram irmãos. Duas crianças de famílias diferentes se
condenam ao sofrimento pelo simples fato de crescerem juntos e, formando uma
“mesma família”. Em um pranto
incontrolável, a minha mãe disse ao meu pai:
__Artur, meu marido, diga alguma
coisa, meu amor.
__Eu não sei o que dizer. Eu não sei
lidar com essa situação. Tenho medo de tudo. Eu tenho medo de impedir que se
amem, eu tenho medo da constituição federal, da sociedade, das religiões...
__Mas, papai, nós...
__Não, meu filho, eu e, a sua mãe
somos responsáveis pela felicidade de vocês dois. Foi o almoço mais gostoso de
minha vida, embora eu não tenha conseguido comer. As palavras de Alana,
interrompendo o nosso almoço, ecoaram como um pedido de socorro em forma de
“oração”. Nenhum Juiz, nenhum promotor conseguiria derrubar a sua empolgante
defesa. Quanto aos religiosos, temos que esperar a reação deles. Mas, vocês,
são donos de seus corações e, a meu ver, eles devem ficar onde estão.
__Então, Artur, o que fazemos?
__Simples, Alice. Peça à Nanci para
ir à Adega buscar a melhor Champanhe. Vamos comemorar um noivado...
__Não é necessário pedir, dona Alice,
já estou indo para a Adega.
Alana, muito feliz, abraçou o meu pai
agradecendo, enchendo-o de beijos, mas, meu pai fez algumas ponderações.
__Alana, não pense que você me
convenceu apenas com o seu procedimento agora. A sua coragem, a sua emoção e a
segurança em suas palavras foram sim, decisivas para não adiarmos essa verdade.
Mas, Eu e Alice, como também, Nanci, nunca soubemos lidar com os sentimentos
que, desde crianças, vocês tiveram um pelo outro. Não era um sentimento
qualquer. Nunca foi um sentimento qualquer. Por não sabermos o que fazer, nós
vínhamos adiando essa verdade. Vocês sempre se amaram. Mas, Alana, como você
mesma disse, mais de uma vez em sua súplica, você tem pouco mais de quinze
anos, portanto, judicialmente você ainda é uma criança. Enzo, sim, é adulto.
Mas, pelo que todos ouvimos, você falou por ele e por você. Subentende-se, como
você mesma disse, o seu amor não pode ser legislado. Danem-se os preconceitos.
Mas, nenhum casal deve se unir sem as bênçãos de Deus e, as igrejas vão
contestar, ou, no mínimo pedir autorização judicial. Principalmente porque
você, Alana, é menor de idade.
Neste
momento Nanci volta com geladas champanhes e, todos brindaram aquele noivado
impossível de ser evitado. Depois do brinde, Nanci intimou a todos que
almoçassem. Enquanto almoçavam, Nanci desapareceu da sala. Voltou em instantes
e, com as mãos escondidas atrás das costas, ela começou a falar.
__Meus meninos travessos que eu tive
a felicidade de ver crescer, de acompanhar o seu amor, de temer que vocês não
pudessem se unir. Eu pensava que teríamos um trabalho muito grande para
convencer Sr. Artur e Dona Alice a abençoar a união de vocês. Mas a “oração” de
Alana facilitou a nossa missão. Vocês não desconhecem que eu trabalho para esta
família há mais de vinte anos. Sabem que eu ganho um ótimo salário e não tenho
nenhuma despesa. Todo o dinheiro que eu ganhei trabalhando com vocês está aplicado
se multiplicando.
__Alice, aonde Nanci quer chegar?
__Calma Artur, não a interrompa.
__Quero, não, patrão. Eu já cheguei.
Como eu estava dizendo, eu pude acompanhar e apostar nesta paixão. Quando o
outro dia eu os peguei se beijando dentro do carro na garage eu senti que não
conseguiriam mais se livrar um do outro. Uma outra noite, eu tive que fechar a
porta do quarto por fora para protegê-los um do outro. Agora, enfim, um
noivado. Mas, usando muito de minha economia eu comprei uma coisa linda para
vocês dois. Não é nada ruim. É coisa muito boa. Não pode existir noivado sem
aliança, então eu comprei um par de alianças para vocês... E, entregando o
lindo estojo para Enzo, pediu que eles as colocassem um no outro.
Era
realmente um lindo par de alianças, da altura da fortuna deles. Nanci realmente
gastara um bom dinheiro.
__Mas Nanci... as alianças nos
serviram direitinho. Como você sabia as medidas de nossos dedos?
__Alana, minha menina, vocês deixam
seus anéis em cima de qualquer móvel, não foi difícil. Vocês têm dinheiro para
comprar alianças muito mais valiosas...
__Nunca que iremos trocar, não é
Alana? Vai ser um orgulho carregar este presente em nossos dedos. Mas, você não
deveria...
__Parou, parou, parou... O dinheiro é
meu e o prazer também. Eu amo vocês. E digo mais. Eu vou dizer que sou a mãe de
Alana para facilitar as coisas e vamos casar vocês no convento que a socorreu.
__Boa ideia Nanci.
Eu e Alana fomos abraçar, beijar e
agradecer a Nanci por tanto apoio que nos dava. Na mesma hora Alana ligou para
a Madre Superiora. Disse que queria se casar lá em agradecimento aos cuidados e
acolhimento de fora merecedora. Todas as religiosas quiseram falar com Alana.
Até o Monsenhor ficou muito feliz com a ideia. A minha mãe pegou o telefone e
agradeceu imensamente por elas terem salvado Alana. A minha mãe perguntou se
podiam ir lá para conversarem pessoalmente. Tudo ficou combinado e foram já no
outro dia.
O meu pai disse que não haveria
necessidade de mentir. Não haveria necessidade de Nanci dizer que era a mãe de
Alana. A história dela era a verdade necessária. Não se pode querer as bênçãos
de Deus com mentiras.
No dia seguinte todos viajamos para
lá. Meu pai levou a carta da suicida que estava cuidadosamente guardada. Vídeos
dos painéis cravados em duas paredes do quarto de Alana om fotos da mãe dela.
Até um jornal com a foto do corpo da jovem quando fora encontrada pela polícia,
enforcada. Alana não participou da conversação que eu, meu pai, minha mãe e
Nanci tivemos com a Madre Superiora e o Monsenhor. Meus pais mostraram que
obedeceram a vontade da mãe dela e, apenas a deram abrigo, carinho, amor demais,
mas, nunca se portaram como pais, em respeito ao sofrimento de Alessandra
Schneider, mãe de Alana. A tatuagem, na face interna do braço esquerdo de
Alana, onde se via o rosto lindo da mãe dela, com a descrição “Amor da minha
vida”, foi o ponto final daquela verdade. Enquanto isso Alana fazia a festa com
as caridosas salvadoras. Marcamos o casamento para a semana seguinte. Voltamos
para o Brasil.
A minha mãe, Nanci e Alana saíram
para fazer compras de roupas para a jovem noiva. Ela viajaria apenas com o
necessário e, quando chegássemos ao nosso destino, na Austrália, onde
moraríamos, compraríamos tudo mais necessário.
Enquanto isso, meu pai me instruía e
me documentava para eu assumir todos os seus negócios na Austrália. Vários de
seus Hotéis para Idosos já funcionavam na costa Australiana do Oceano Pacífico.
Eu e Alana nos casaríamos e iríamos morar em uma cidade litorânea da Austrália,
muito rica, muito divertida e escandalosamente bonita- Gold Coast.
__Meu pai, eu estou fazendo certo em
Amar Alana?
__Por que a dúvida, meu filho? Você
quer mudar de ideia, está arrependido? É por ela ser uma criança de, como ela
afirma, “de pouco mais de quinze anos”?
__Não, não papai. Desde que Alana
veio para esta casa, eu me sinto mal quando estou longe dela. Eu a quero para
mim, mas, estou sentindo que a estou roubando de você, de mamãe e, até mesmo de
Nanci.
__Não meu filho. Você não tem ideia
de como eu e a sua mãe, em todos estes quinze anos, nos angustiamos quando
começamos a perceber que vocês se queriam de uma forma diferente. Vocês, meu
filho, se olhavam diferente, se cuidavam diferente, se respeitavam diferente.
Vocês, meu filho, sofriam diferente com o sofrimento do outro. Nós não
apoiaríamos esta união se esta paixão sua por ela tivesse surgido agora,
recentemente, por ela ser muito bonita, elegante, simpática e, muito sensual.
Acharíamos que poderia ser apenas uma atração sexual inconsequente e
passageira. Mas, repetindo, há “pouco mais de quinze anos” que vocês se
entregam um para o outro. Eu, meu filho, a sua mãe e Nanci, não temos dúvidas
que vocês sempre se entregaram em benefício do outro e, esta entrega, meu
querido, tem nome. Esta entrega se chama amor.
__Parece que eu a estou roubando de
vocês, não?
__Meu filho, infeliz de quem não crê
nos traçados de Deus. Esta expressão vai ficar marcada de tanto que está sendo
usada, mas, recorde: há pouco mais de quinze anos eu comprei esta mansão
maravilhosa, encravada neste sítio mais maravilhoso ainda. O incêndio em nossa
casa e a trágica morte de seus avós nos trouxeram para cá. A bebezinha Alana
foi colocada nesta varanda, para quem aqui morasse cuidasse dela. Outro
cuidaria dela, ou não, se eu não tivesse acabado de mudar para cá.
__Eu não a estou roubando de você e
mamãe?
__Sim. Não você, mas, o amor inocente
que abraçou “vocês crianças”. Sim, ela nos foi roubada, primeiramente, pela
carta da mãe dela encontrada na caixa de papelão junto com a bebezinha Alana.
Aquela carta nos obrigou, a mim e à sua mãe, a não almejarmos ser os pais dela.
__Verdade papai. Você fez tudo
exatamente como a mãe dela pedira.
__E, tem mais. Não sei se Alana
deveria saber disso. Eu tenho muita dúvida a respeito. Apenas eu e a sua mãe,
sabemos. Nem Nanci sabe, pelo menos ainda.
Enquanto a sua amada está distraída com compras. Vamos fazer um passeio.
Eu vou lhe mostrar algo.
Eu e meu pai saímos de carro. Eu não
sabia onde ele estava me levando. Enquanto dirigia o veículo, ela repassava os
detalhes da função que eu iria assumir em Gold Coast na Austrália, depois do
casamento. Quando chegamos ao destino, eu me assustei.
__Um cemitério, papai?
__Sim. Venha comigo.
Quando entramos, meu pai chamou um
funcionário e lhe pediu que nos levasse à mais bonita catacumba daquele
cemitério. O funcionário não titubeou e nos levou a um majestoso sepulcro,
muito conservado, com flores frescas. No mausoléu tinha uma linda foto tirada
do pen drive que estava na caixa de papelão com a inscrição:
“VOCÊ
NÃO SERÁ ESQUECIDA, ALESSANDRA SCNEIDER. A SUA FILHA SEMPRE SERÁ SUA FILHA”
__Oh! Meu pai... Ela não foi
enterrada sem documentos?
__Não, meu filho. Através de um
advogado eu requisitei o direito de enterrar o corpo enquanto estava no IML e
consegui. Era o mínimo que o meu dinheiro poderia fazer em agradecimento à mais
bela alegria que ela havia colocado na varando de nossa mansão. Vamos embora.
Agora você sabe bem o que fazer em Gold Coast, em nossos empreendimentos. Case.
Vá ser feliz. Alana agora, como sempre me pareceu ser, é de sua
responsabilidade. Faça-a feliz. Se ela quiser ver, traga-a aqui. Mas, não
insista.
As mulheres da minha vida voltaram
das compras. Alana estava radiante com aquela linda aliança em seu dedo
direito, ainda. Já não tínhamos mais preconceitos a respeitar e nos beijamos
com carinho. Mais tarde ela quis ver o jazigo de sua mãe. Agradeceu muito a
dona Alice que sempre trocava as flores que enfeitavam aquela lembrança. Como
nos outro dia iriamos nos casar no Convento e, definitivamente, mudarmos para a
Austrália, ela quis visitar e se despedir de amigas. Não poderia falar de
casamento, apenas mudança a trabalho. Nós andamos durante toda a manhã
encontrando os nossos amigos. À tarde, quando chegamos, Nanci nos esperava para
almoçar. Meus pais haviam saído para verificar a checagem do seu jatinho
particular que nos levaria para o casamento e, depois, em lua de mel para Gold
Coast, na Austrália.
__Meninos, venham almoçar. O almoço
hoje é o que vocês mais gostam.
__Nanci, antes de almoçarmos nós
vamos nos banhar na cachoreira. Depois nós almoçamos. Tudo bem?
__ Fiquem à vontade. Eu vou sair. Não
gostei do vestido que comprei para o casamento. Vou na loja trocar. Se eu
demorar podem aquecer no micro-ondas, ou, me aguardar.
A gente se trocou rapidamente e fomos
nos deliciar na cachoeira. Estava muito calor. Sentiríamos saudades daquele
recanto encantado. Mergulhamos no rio apenas nos admirando. Pássaros e
borboletas mudaram os seus hábitos e, vieram enfeitar a nossa tarde de
despedida. Animaizinhos da floresta também nos observavam das margens. O meu
velho cão, Bowie, parecia temer que não nos víssemos mais e, nos lançava um
olhar interrogativo deitado na grama fofa. Nadamos muito, nos beijamos muito,
mas, não passamos disso. Cansados, voltamos para a mansão. Nanci acabara de
chegar. Fomos nos banhar e, a comida já voltara para a mesa, mas, era mais
jantar do que almoço. Estávamos famintos. Comemos bem depois de, sob protesto,
eu degustar uma taça de vinho.
No outro dia, no convento, nos
casamos em uma cerimônia tão simples quanto emocionante. Um gostoso bolo de
casamento nos foi oferecido. Muita emoção na despedida e, felizes embarcamos no
Jatinho para Santiago, no Chile onde passaríamos aquela noite. Do Aeroporto, de
táxis, fomos para um luxuoso hotel no centro da cidade. Estávamos cansados.
Fomos nos banhar e nos amamos intensamente, agora, sem remorsos, sem medos e
livres de possíveis preconceitos. Como dissera Alana, não se devia legislar o
amor. Depois do banho na luxuosa suíte, eu a carreguei nua para o leito e,
esquecendo o cansaço, novamente nos amamos louca e apaixonadamente. Dormimos
alguns minutos.
__Alana, acorda meu bem. Vamos
descer e jantar.
__Eu estou mesmo com fome, Enzo.
Mas, eu gostaria de passear no centro. Eu quero jantar em um restaurante no
centro. Mas vou me banhar primeiro, pois, estou muito suada. Fique ai. Não
venha atrás de mim. Depois você se banha. Combinado?
__Sim, claro. Combinado.
Alana se banhou rapidamente. Saiu do
banheiro e, enquanto ela se trocava, eu fui me banhar. Mas, eu já estava pronto
para sair quando, ainda debaixo d’água, ela me abraçou pelas costas. Essa
criança é mesmo uma criança. Nos abraçamos e nos beijamos ardentemente, mas,
ela já havia se trocado e se molhou todinha. Com a roupa ensopada ela dava
risada. Eu a ajudei a tirar a roupa molhada, a sequei com carinho, também dando
boas risadas. Cheios de felicidades descemos e um carro do Hotel nos levou para
um famoso restaurante. Famoso, lindo, aconchegante, tanto quanto caro, no
centro. Nós andamos um pouco antes de
irmos jantar.
No restaurante antes de escolhermos
uma mesa, nos sentamos em torno do balcão do bar. Alana quis pedir algo para
beber e, me assustei quando ela pediu uísque.
__Alana, você é menor, não pode
beber. Você nunca bebeu.
__Também, até hoje, eu não tinha
casado.
Então
eu nada pedi, pois, sabia que ela não conseguiria beber. E, não deu outra.
Tentou não fazer cara feia, se engasgou, mas engoliu o primeiro gole. Eu tomei
dela, bebi um gole e, a convidei para dançar lindas músicas que enchiam o
ambiente de romantismo. Primeiro, ela me
beijou leve e docemente nos lábios. Depois, exigiu condições para aceitar e,
dançar...
__Diga que o nosso amor não morre.
Diga que a minha felicidade não é uma fantasia, não é um “anjo vagabundo”. Diga
que a minha felicidade é eterna.
__Todos na nossa casa confirmaram,
até repetindo a sua expressão, que nós nos amamos “há pouco mais de quinze
anos”.
Então dançamos muito, jantamos muito,
passeamos pelos arredores do lindo centro turístico de Santiago. E, cedo, no
outro dia, embarcamos no luxuoso e veloz jatinho de meu pai. Voamos
aproximadamente quinze horas cortando o Oceano Pacífico e, aterrissamos em
nosso destino, Gold Coast, na Austrália.
Alana adorou tudo por lá. Tudo era
belo, as pessoas eram belas e alegres. Uma cidade rica, universitária, turismo
rico e sustentável. A ideia inicial era curtimos a nossa esperada “lua de mel”,
por quantos dias quiséssemos e, depois, eu assumiria a administração das
dezenas de hotéis de meu pai.
Viajamos muito por todo o país
australiano. A cada dia, mais nos amávamos. Alana era sim, uma criança, mas era
o “amor da minha vida”.
Sempre deixando espaço para amor de
Alana, eu assumi os negócios de meu pai em Gold Coast.
fim
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